Reflexões sobre as ações humanas, os fenômenos climáticos e a esperança da renovação
As rajadas de vento e as densas nuvens de poeira que encobriram nossas cidades e florestas, se tornaram um símbolo angustiante do impacto das ações humanas sobre o meio ambiente. As árvores, que antes nos davam sombra e equilíbrio, foram cortadas. O solo, exposto pela ganância e pelo descaso, foi levantado pela força dos ventos como um grito da natureza pedindo socorro. Em meio à paisagem alaranjada e ao ar sufocante, sentimos na pele e nos olhos o peso das nossas escolhas.
A poeira que nos cega não é apenas física — é também simbólica. Cegamo-nos por conveniência, ignorando alertas científicos, desmatamentos, queimadas e a destruição silenciosa do ecossistema. O vento que nos ensurdece é o reflexo da velocidade com que tudo se transforma, da pressa em consumir sem pensar nas consequências, do barulho de uma civilização que grita progresso, mas cala a consciência.
A Bíblia já nos alertava sobre as consequências da negligência e da vaidade humana:
“Porque o que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas 6:7, NAA).
É como se o solo, cansado de ser ferido, agora devolvesse em poeira o fruto daquilo que lhe foi arrancado. Como se o vento levasse em seu sopro o aviso de que há um limite para tudo — inclusive para a exploração desenfreada da natureza.
“Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens” (Salmo 115:16, ARA).
Fomos designados guardiões da criação, mas nos tornamos predadores. Com olhos fechados e ouvidos ocupados por ruídos artificiais, não ouvimos mais o canto dos pássaros, nem sentimos o perfume das flores. Substituímos a harmonia da natureza pela poluição das máquinas, pelas queimadas nos campos, pelas monoculturas que expulsam a diversidade.
Contudo, mesmo após a tempestade de poeira, mesmo depois dos ventos impiedosos, veio a chuva. E com ela, a lembrança de que sempre há um novo dia. Que apesar de nossas falhas, ainda temos a chance de recomeçar, reconstruir e cuidar da criação com a reverência que ela merece.
“As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim. Renovam-se cada manhã” (Lamentações 3:22-23, ARA).
A chuva, que limpou o ar e umedeceu o solo seco, é também símbolo da graça divina e da esperança que brota mesmo nos momentos mais sombrios. Ela nos convida a enxergar além da poeira, a ouvir além do vento, a repensar nossas ações, e a valorizar o que realmente importa: a vida, o equilíbrio e a responsabilidade com o planeta que nos foi confiado.
Que possamos transformar os dias de caos em dias de reflexão, e que cada gota de chuva seja também uma gota de consciência. Porque o amanhã sempre vem — e com ele, a oportunidade de fazer diferente.
Referências
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução Nova Almeida Atualizada (NAA) e Almeida Revista e Atualizada (ARA). Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.