quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Daqui para a frente, será prioridade ensinar aos filhos a importância do autocuidado

Será que teremos de mudar algumas direções em nossas atitudes educativas com os filhos após esse longo período – que ainda não terminou – de pandemia?

Temos muito no que pensar sobre esse tema, mas já dá para colocar em prática o que muitos adultos, principalmente, aprenderam durante esse período. Daqui para a frente, será prioridade ensinar aos filhos a importância do autocuidado – que leva ao cuidado com o outro. Uma discussão atual – tomar ou não vacinas – nos lembra que não vivemos sozinhos.

Da família à escola, ao trabalho, à vida social em todos os seus aspectos, estamos sempre em grupos, o que requer cuidados. Como colaborar com a proteção coletiva?

Tomemos dois exemplos: o sarampo e a poliomielite. O sarampo já havia sido declarado erradicado no Brasil; porém, voltou a circular, acompanhando o baixo índice de vacinação. A poliomielite está considerada erradicada, mas o momento é preocupante: em 2019, uma pesquisa mostrou que só metade da população se vacinou contra essa doença.

Percebe que podemos, com o autocuidado, promover o cuidado com o outro? E o cuidado tem a ver não só com a saúde e o bem-estar, mas também com a vida boa e respeitosa. Sempre é bom lembrar que, quando o grupo (familiar, social) vive bem, nossa vida pessoal fica melhor.

Os pais, quando cuidam das crianças pequenas, estão, indiretamente, ensinando o cuidado de si. Mas, a partir dos 6, 7 anos, é importante ensinar diretamente. Mostrar ao filho que ele arca com alguma consequência ruim por não ter avaliado os riscos de determinada atitude antes de tomá-la é um bom exemplo. Quanto aos adolescentes, é mais importante que eles já saibam o básico, mas continuem aprendendo como cuidar bem de si. Nessa fase da vida, há muitas tentações, e eles têm de pensar que, antes de ceder a essas iscas, precisam saber dos riscos que elas podem conter.

Outro tema que deverá nortear de agora em diante a educação dos filhos é a construção do processo de autonomia. Após quase dois anos apegados aos pais, será necessário incentivar o caminhar com as próprias pernas, sempre conforme a etapa vivida no momento. Como fazer? De início, tomando uma atitude simples: não fazer nada pelo filho que ele já possa fazer por si mesmo. Aliás, você se deu conta de quantas coisas faz por ele que deveriam ser da conta dele? Por que fazemos isso? Por quê?

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A aproximação das atividades escolares com as práticas sociais dos alunos pode ser um caminho emancipatório para o ensino.

Vivemos numa sociedade grafocêntrica. A leitura e a escrita permeiam as interações humanas. Entretanto, na escola, ainda enfrentamos dificuldades no desenvolvimento de atividades que promovam não apenas o aprendizado sobre a linguagem, mas também a conscientização dos alunos a respeito da importância e da centralidade da escrita e da leitura na sociedade.

Pensar a linguagem como prática social é, portanto, repensar o ensino. Infelizmente, a concepção sócio-histórica de escrita, voltada às práticas sociais, nem sempre está presente no dia a dia da sala de aula.

A realidade das escolas públicas tem demonstrado que ainda há um longo caminho entre o que se espera do ensino e o que, de forma geral, tem-se realizado com os alunos.

Uma característica comum tem sido o distanciamento entre as práticas escolares e as práticas sociais, como se escola e sociedade fossem instâncias separadas, e não, na verdade, complementares.

Esse artificialismo no trabalho com a linguagem pouco tem contribuído para que os alunos se tornem, efetivamente, leitores e escritores. Ou seja, que consigam se apropriar, de forma crítica, de novos conhecimentos, imperativos às mudanças sociais e ao processo de transformação de uma sociedade com tantas injustiças.

O que se tem feito em sala de aula parece ter um fim em si mesmo. Após mais de uma década de ensino básico, muitos alunos estão despreparados para utilizarem a leitura e a escrita como ferramentas e para responderem às novas demandas do uso da linguagem nos mais diversos contextos.

Esse problema – o inadequado processo de escolarização na modalidade escrita e a artificialização da produção dos alunos – tem se tornado um obstáculo para uma aprendizagem significativa.

Tal situação faz parte do cotidiano escolar. A insatisfação com a prática docente deve se mostrar uma oportunidade para a busca de teorias que possam colaborar com a ressignificação do trabalho docente como um todo.

Isso se explica pelo fato de que a aproximação das atividades escolares
com as práticas sociais dos alunos pode ser um caminho emancipatório para o ensino.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O que podemos fazer por professores para que eles tenham o que comemorar no dia 15 de outubro?

A sensação de solidão dos professores surgiu agora, na pandemia? Não! É de bem antes. Só ficou agudizada quando eles receberam a responsabilidade de ensinar crianças e de se relacionar com sua classes mediados por uma tela. Foi um sufoco!

Como segurar a atenção dos alunos em aulas virtuais, onde gravar conteúdos específicos, que metodologias usar, onde encontrar os equipamentos necessários e uma internet mais veloz, etc, etc, etc. Foram questões que colaboraram muito para que a condição de solidão docente ficasse cada vez mais forte.

Mas o professor já se sentia terrivelmente só ao perceber que faz parte de uma categoria que costuma ser excluída da sociedade. Não valorizamos seu trabalho, não lutamos por políticas públicas que ofereçam condições dignas de trabalho a eles, não damos importância ao exercício árduo e diário que eles praticam. Não clamamos por investimentos na formação deles, não agradecemos o que fazem por nossa sociedade.

O que podemos fazer por professores para que eles tenham o que comemorar no dia 15 de outubro? Podemos começar por respeitá-los. Criança precisa ter um tempo presente e não apenas um futuro; professor precisa ter o reconhecimento social de seu trabalho.

Precisamos ouvir crianças e professores. Eles podem nos apontar os nortes que devemos seguir para que possamos oferecer melhores condições de infância e de trabalho a eles.

Precisamos exigir de nossos governantes que realizem investimentos na infância e no trabalho docente. Quem sabe assim possamos, sem hipocrisias sociais.

domingo, 10 de outubro de 2021

Todos sentimos na pele os efeitos da pandemia e do isolamento – e as crianças também.

Criança cresce e se desenvolve bem melhor com outras crianças. A escola, na atualidade, é o local em que as crianças encontram seus pares já que a vida pública, nas ruas, nas praças, diminuiu muito para elas. E, de repente, a escola fechou. A pandemia provocou o isolamento social de todos e, principalmente, de crianças.

Com as escolas fechadas, muitas foram as preocupações: falamos em ano perdido, em déficit de aprendizagem, perda de rotina. Pouco tempo depois, consideramos com intensidade a saúde mental afetada das crianças e adolescentes. Agora, estamos ocupados com a volta à escola e ao convívio das crianças e jovens com seus pares. E a dificuldade que muitos deles estão enfrentando tem chamado a atenção de pais e de professores.

Sem dúvida nenhuma, a maioria das crianças estava ávida por retornar – para brincar com os colegas, ter contato regular olho no olho com outros adultos que não os da família. Mas não tem sido fácil para os mais novos, mesmo com todos os benefícios percebidos.

Algumas crianças têm apresentado reações físicas intensas ao ir para a escola e nem conseguem sair do carro ao lá chegar. Outras insistem que aprendem mais e melhor com as aulas remotas... Vamos, antes de tudo, entender o contexto de vida atual dessas crianças. Todos sentimos na pele os efeitos da pandemia e do isolamento – e as crianças também. Elas foram, por um longo período, privadas do contato corporal com avós, tias e tios, primos, amigos da família – e sofreram com isso. E como elas comunicaram esse sofrimento? Quase sempre com sinais evidentes.

Crianças que já haviam conquistado a autonomia possível em relação aos pais passaram a se mostrar dependentes deles; distúrbios do sono e mudanças no estilo alimentar foram frequentes; dificuldades para focar a atenção e pesadelos marcaram presença.

Muitos adultos esperavam que, com o retorno das aulas, as dificuldades infantis ficariam amenizadas, Para muitas crianças isso de fato aconteceu. Mas não para esse grupo que está congelado nos medos, nas inseguranças.

O que fazer? O ato de a criança brincar é capaz de realizar verdadeiras mágicas na vida dela. Mas não se trata só de oferecer brinquedos. Fomentar a autonomia do brincar: essa é a questão. Não, os pais não precisam separar períodos do dia para brincar com os filhos e, sim, devem possibilitar condições de tempo e espaço para que eles possam realizar sua criatividade e fantasias. Em tempo: amigos invisíveis podem ser ótimas companhias para as crianças pequenas.

Atividades do interesse de todos do grupo familiar, como dançar, ler, assistir a filmes ou até jogar videogame podem estimular a criança em sua afetividade, suas relações, sua resiliência. E fortalecer a resiliência dos mais novos é fundamental nessa hora. Escutar o que as crianças dizem é mais importante do que falar a elas. Sem escuta não há diálogo, senhores pais. É preciso superar a sensação de estar ouvindo bobagens infantis para descortinar um universo imenso de significados pessoais, pedidos sutis, questionamentos relevantes. E arte: muita arte para as famílias praticarem e apreciarem, é a melhor dica que posso dar. A arte pode nos salvar de nossos sentimentos confusos, de nossas dores, de nossa dura realidade.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Piso salarial de professores brasileiros é o mais baixo entre 40 países, diz estudo

 O piso salarial dos professores brasileiros nos anos finais do ensino fundamental é o mais baixo entre 40 países avaliados em um estudo da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta quinta-feira, 16. Os rendimentos dos docentes brasileiros no início da carreira são menores do que os de professores em países como México, Colômbia e Chile.

De acordo com o relatório Education at a Glance 2021, os professores brasileiros têm salário inicial de 13,9 mil dólares anuais. Na Alemanha, por exemplo, o valor passa de 70 mil dólares. E é maior do que 20 mil dólares em países como Grécia, Colômbia e Chile. A conversão para comparação dos salários é feita usando a escala de paridade do poder de compra, que reflete o custo de vida nos países.

Em relação ao salário real, que inclui pagamentos adicionais, o valor médio recebido pelos brasileiros também está aquém da maioria dos países avaliados no relatório - só ultrapassa o que recebem os professores na Hungria e na Eslováquia. Os salários dependem de fatores como idade, nível de experiência e qualificação profissional.

No Brasil, segundo a OCDE, os salários reais médios dos professores são de 25.030 dólares anuais no nível pré-primário (que corresponde à educação infantil) e 25.366 dólares no nível primário (anos iniciais do ensino fundamental). Na média dos países da OCDE, os valores para as mesmas etapas são 40.707 dólares e 45.687 dólares, respectivamente.

 “Igualdade de oportunidades é um ingrediente chave para uma sociedade democrática forte e coesa. Diferentemente de políticas que podem combater as consequências, a educação pode atacar as raízes da desigualdade de oportunidades", disse nesta quinta-feira, 16, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann. "Reforçar investimentos em uma educação melhor e mais relevante será fundamental para ajudar os países a oferecer prosperidade social e econômica de longo prazo", completou ele, durante o lançamento do relatório em Paris. 

Para a OCDE, o ambiente escolar influencia na decisão dos professores brasileiros de entrar e permanecer na profissão. “O tamanho das turmas diminuiu nos últimos anos no Brasil, mas os salários dos professores permanecem abaixo da média”, aponta o relatório.

Em relação ao tamanho das turmas, o estudo indica que o número de alunos nas salas tem caído de 2013 a 2019, passando de 23 para 20 estudantes nos anos iniciais do ensino fundamental - abaixo da média da OCDE (21).  Nos anos finais do fundamental, também houve queda, de 28 para 26, mas o número de alunos ainda é superior à média dos outros países (23).

 



https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,piso-salarial-de-professores-brasileiros-e-o-mais-baixo-da-ocde-aponta-estudo,70003841430

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

É raro encontrarmos adolescentes que não frequentem redes sociais no espaço virtual



Primeiramente, vamos pensar nos jovens dessa idade, um pouco menos, um pouco mais. Eles são considerados “nativos digitais” por já terem nascido e crescido em um mundo de cultura digital. Há pessoas de outras gerações que se naturalizaram nesse mundo, mesmo não tendo nascido nele.

É raro encontrarmos adolescentes que não frequentem redes sociais no espaço virtual, que não se divirtam com jogos virtuais e não tenham conhecido muitos de seus pares nesse espaço. Eles têm uma facilidade enorme para lidar com as ferramentas digitais disponíveis e as manuseiam com agilidade ímpar. Muitos adultos, por não terem essa facilidade, acreditam que pouco podem ajudar filhos e/ou alunos quando se trata de tecnologia.

Entretanto, os chamados nativos digitais podem não ter facilidade para lidar com as relações que acontecem nas redes virtuais por um motivo simples: eles estão apenas começando a adquirir experiência na vida povoada por seres com olhar mais adulto para o mundo e pouco se dedicaram a conhecer e explorar o mundo real para entender como ele funciona. E o mundo virtual, leitor, é ancorado no real, mostrando-se às vezes um pouco melhor do que este e, às vezes, um pouco pior. E esse pior é principalmente provocado pela falta da presença humana concreta nas conexões.

Quando jovens conversam entre si e praticam o que é chamado – mal chamado – de “brincadeiras de mau gosto”, eles podem observar a reação do outro. No espaço virtual, é como se não houvesse reação nenhuma, por isso eles usam e abusam de comentários agressivos e maldosos. Além de essa presença virtual não se concretizar há também a falsa ideia de que é bom ser franco. Mas eles não sabem distinguir franqueza de grosseria, ainda. Aliás, muitos adultos também não sabem.

Os relacionamentos interpessoais são delicados, complexos, exigem maturidade dos envolvidos. Maturidade que anda em falta em nosso mundo. Nós não queríamos, mas estamos construindo um mundo com crianças sem infância e adultos imaturos.

Mães e pais de adolescentes precisam bancar essa etapa de vida dos filhos. É preciso ser gente grande e ter coragem para aceitar o título de ser mãe ou pai careta. Afinal, é isso mesmo que somos aos olhos deles. E que devemos ser! Filhos adolescentes precisam de nossa presença firme, sensata. Precisamos cultivar a confiança deles para que aceitem nossa tutela, ainda necessária, principalmente no relacionamento deles com o mundo virtual.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

A criança pequena tem como se fosse uma antena que capta os sinais mais sutis de mudanças


O bebê, após o nascimento, sofre. Mesmo sendo muito bem cuidado. É que, em uma gestação regular, ele estava em um ambiente superprotegido, com a temperatura adequada e luminosidade e ruídos que só promoviam o seu bem-estar – a batida do coração da mãe, por exemplo. Após o nascimento, ele perde esse ambiente seguro e entra em outro com luzes, barulhos, sente fome, calor, frio, tem cólicas etc.

É por isso que o bebê chora, aparentemente sem motivo. Ele sente falta daquela segurança. Mas é bom saber que esse sofrimento passa com a adaptação e não deixa marcas que prejudicam o seu desenvolvimento.

Vamos pensar agora em alguns motivos que fazem uma criança pequena sofrer. Uma das sustentações da vida infantil é o vínculo afetivo que tem com os pais e/ou outros adultos que convivem amorosamente com ela e cuidam dela. Esse vínculo é tão intenso que leva a criança a facilmente perceber se há algo que preocupa essas pessoas.

Pois as preocupações, receios, dores e sofrimentos, decepções, tristezas, por exemplo, que acometem esses adultos, fazem a criança sofrer. Nem é preciso haver grandes demonstrações por parte do adulto desse sofrimento. A criança pequena tem como se fosse uma antena que capta os sinais mais sutis de mudanças e isso a faz sentir o sofrimento que ela nem entende.

Na atualidade, com a pandemia e o grande número de mortos, quase a totalidade dos adultos está em luto ou preocupada. E isso afeta até a criança: ela sente o estado de insegurança e tristeza por identificação com os adultos que a cercam.

Até os 3 anos, mais ou menos, quase todos os cuidados com a criança se concentram na saúde física. O pediatra, as vacinas, a amamentação, o sono, o desenvolvimento corporal etc. Quando acontece de a criança adoecer, os tratamentos são focados na doença física. Poucos profissionais têm preparo e cuidado em observar sinais da saúde mental da criança nessa idade. Mas seria preciso e precioso que houvesse esse tipo de atenção porque, desse modo, muitos quadros sérios poderiam ser evitados mais tarde.

Que sinais podem apontar sofrimento psíquico na criança? A organização corporal, o tipo de aconchego físico e de comunicação que a criança tem com o adulto, o choro e as vocalizações e o olhar são alguns exemplos.

No contexto atual, tristezas, choro sem motivo aparente, perturbação do sono e da alimentação, irritação frequente e inibição fazem parte do quadro de estresse pela falta da escola e pela pandemia. Mesmo assim, merecem atenção dos responsáveis.

sábado, 12 de junho de 2021

Os pais enfrentaram, e ainda irão enfrentar por um bom tempo, situações difíceis com os filhos nesta época de pandemia.

Os pais enfrentaram, e ainda irão enfrentar por um bom tempo, situações difíceis com os filhos nesta época de pandemia. Se, antes de as escolas fecharem, muitas mães chegaram a dizer “Eu já fiz de tudo” ao se referirem a comportamentos ou reações dos filhos, hoje elas reconhecem que já inventaram soluções e estratégias inimagináveis anteriormente. E podem - e terão - de criar outras mais, ainda. As preocupações, angústias, inseguranças e dúvidas - muitas dúvidas - habitam hoje a cabeça dos pais.

Para alguns, uma pequena mudança de comportamento do filho já sinaliza algum possível problema; para outros, o atraso na aprendizagem em mais de um ano sem escola presencial é um tormento para o qual não encontram soluções que considerem produtivas. A saúde física e mental dos filhos é mais um motivo para sustentar o sinal amarelo piscando na cabeça deles o tempo todo. E o sinal vermelho acende com muita frequência, pelo tédio e pela solidão que observam os filhos passarem. De vez em quando, parece que foram os pais que criaram a pandemia, tamanha é a culpa que carregam. Estão carregando um peso enorme nas costas tanto por acompanharem o tempo presente na vida dos filhos quanto sobre o que imaginam que será do futuro deles. Estão fragilizados.

O aluno, tanto da educação infantil quanto do ensino fundamental 1, precisa de um local designado para aprender - a escola -, precisa de um adulto presente preparado e disposto a ensinar - o professor -, e companhia na árdua tarefa de aprender - os colegas. O ensino remoto não consegue substituir esses requisitos para a maioria das crianças.

O que fazer, então? Primeiramente, ter paciência e tolerância com as dificuldades ou recusa do filho nos estudos. Adianto: pressionar, dar broncas, fazer discurso moral, além de não adiantar nada, pode piorar a situação. Conversar com a escola é uma ótima providência, apesar de que muitas não se comovem nem um pouco com a situação apresentada. Sabe por quê? Porque elas também não têm soluções a oferecer. É, não existe escola perfeita. Entretanto, há escolas que estão sensibilizadas com o contexto vivido por seus alunos e suas famílias no estudo remoto. E, lado a lado com a família, em um diálogo, ganham maiores chances de encontrar boas soluções.

Enquanto isso, estimule a inteligência e o raciocínio de seus filhos. A afetividade entre pais e filhos é importante para isso, sabia? Dê atenção a eles sempre que for possível, conversando, fazendo trabalhos domésticos juntos, ouvindo com interesse real o que falam, mostrando o mundo a eles por meio de livros, filmes, histórias. Desafie seus filhos a conseguirem algo que para eles é difícil, apresente jogos de tabuleiro.

E como fazer a criança pequena entender e respeitar o trabalho remoto dos pais feito de casa? Lembre-se: o concreto ajuda mais do que o abstrato, do que a explicação falada. Repetir a rotina anterior à pandemia de quando os pais saíam para o trabalho pode ajudar: despedir-se deles e dizer que vai ao trabalho.

E o tédio das crianças sem escola, sem colegas para brincar, sem viajar, sem passear? Agora, precisamos devolver a autonomia de brincar às crianças. Em vez de brincar com os filhos, sugerir algumas brincadeiras diferentes é uma possibilidade. Seus filhos estão sofrendo? Sim. Vocês também? Sim. Essa é a nossa realidade, sobre a qual não temos controle, e não somos nada mais do que humanos com dores, dissabores, mas também com possibilidades e potenciais diversos. Que façamos bom proveito.

terça-feira, 4 de maio de 2021

É preciso coragem

 As Escolas não estão fechadas, estão bem abertas cumprindo além de seu papel educacional, seu papel social. Os alunos não deixaram de estudar, somente não estão estudando de forma presencial nas escolas, por razões que não preciso enumerar. Os professores não estão "ganhando" sem trabalhar, estão trabalhando e muito. E mais que trabalhar, estão investindo em formas de ensinar a distância, buscando alternativas para que seus alunos tenham o menor prejuízo. Ah! Mas eles vão ter prejuízo? Claro que sim. A presença na escola, o convívio com os colegas e professores no dia a dia é insubstituível. Mas o que todos nós que estamos, de fato, preocupados com o desenvolvimento de todo este processo está fazendo para aqueles que teimam em não enxergar seu papel neste momento. Será que alguém em sã consciência ainda acredita que estamos vivendo uma "vida normal"? É preciso coragem para mudar, coragem para encarar este momento tenebroso de nossas vidas. Os professores estão investindo em formas de fazer chegar na ponta da linha esta mudança que tantos falam, mas poucos fazem. E quando digo investindo, estou dizendo "gastando" do próprio bolso para conseguir atender a todos. Não é brincadeira. Será que havia alguém preparado para este momento? Nem em nossos piores pesadelos poderíamos imaginar o que estamos vivendo nos dias de hoje. Mas, você para e olha o seu trabalho por alguns momentos, pensa: "Vale a pena". Vale a pena por cada sorriso que podemos ver nas fotos desta postagem, nos vídeos e por cada tarefa concluída. Mais ainda, por cada dúvida tirada. Por cada pai/mãe que envia mensagem ou liga perguntando algo, construindo esta teia que não pode e não deve parar. Este país, este estado e cada município, são feitos de gente. Gente que trabalha, que constrói, que sofre mas, ao mesmo tempo sorri, pois a cada dia que acordamos, nasce junto de cada um de nós uma nova esperança. Que Deus nos ajude.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

ISSO SE APRENDE NA ESCOLA!

Conviver respeitosamente com pessoas com quem não se tem vínculos pessoais não é fácil, e isso se aprende na escola. Sim: a socialização básica, chamada primária, é na família que ocorre. Mas a secundária é só na escola. O que dizer, então, do aprendizado colaborativo? As ciências da educação já apontaram que, quando um aluno aprende e/ou ensina a outros alunos, o conhecimento resultante é bem sólido. Afinal, o conhecimento é um produto social!

Debates de temas importantes, com base no conhecimento, trazem opiniões e interpretações diferentes, o que colabora, e muito, com o pensamento crítico. No ensino domiciliar, não há essa possibilidade. Da mesma maneira, trabalhar em conjunto com colegas, aprendizado que será crucial na vida profissional adulta, também não aparece. Em resumo: temos muitos motivos importantes para defender a escola e a vida escolar!

domingo, 28 de março de 2021

Grandes desafios para as escolas

Temos grandes desafios para as escolas do futuro. Apesar de aparentar ser um paradoxo, a tecnologia devolverá a humanidade ao ser humano. Isso acontecerá, pois toda a tomada de decisão que possuir uma resposta clara e objetiva será facilmente absorvida e substituída pela inteligência artificial. Portanto, as escolas precisam preparar os estudantes para lidar com as funções essencialmente humanas, como a criatividade, resolução de problemas, trabalho em equipe e outras tantas competências e habilidades que vão além do conteúdo e das questões de múltipla escolha.

O ambiente escolar precisa estimular a curiosidade, manter aceso o desejo de aprender e criar conexões além da sala de aula. Imagine se o trabalho em equipe fosse feito com estudantes de diferentes estados brasileiros e não necessariamente com aqueles que estão na mesma sala. Somente uma educação que considere o indivíduo em suas particularidades pode buscar dar conta de um país de dimensão continental. A tecnologia reduziu as barreiras físicas, mas o Brasil enfrenta a quebra do paradigma cultural, uma verdadeira revolução para a construção coletiva da próxima grande transformação que deve acontecer na educação nos próximos anos.

O aumento da expectativa de vida também amplia a necessidade de formação contínua. As pessoas precisam ser ensinadas a estudar de uma forma diferente e autônoma. O grande desafio da educação é efetivamente reinventar as relações humanas. O mundo precisa de mais cuidado, colaboração, olhar para o outro, empatia e isso só é possível com a ajuda de famílias e escolas, que são grandes agentes de transformação da sociedade.

quinta-feira, 4 de março de 2021

O ENSINO PÚBLICO E A VOLTA ÁS AULAS

 O ensino público, em condições normais, demanda mais do que assegurar que, para cada aula, haja um professor preparado, uma infraestrutura adequada e os materiais necessários. Há a merenda escolar que precisa chegar a cada escola, a limpeza dos ambientes, o atendimento das famílias, o contato com a rede de proteção à infância e a gestão de espaços adicionais, como salas de leitura escolares, quadras para educação física, salas de artes e laboratórios de ciências.

Tudo isso se torna mais sério quando há uma crise. Neste contexto, apelar para usos e costumes, no estilo "sempre fizemos assim", já não é suficiente, e a logística necessária envolve uma organização de processos que não dialoga com o calendário escolar.

Dois exemplos evidenciam a importância de competências logísticas entre gestores educacionais. O primeiro foi a importância de se fazerem pequenas obras nas escolas, aproveitando a ausência das crianças, para torná-las mais seguras para o retorno às aulas presenciais. Era importante tornar as salas mais ventiladas, aumentar o número de pias, rever encanamentos ou a conexão com o sistema de esgoto.

Um segundo é a aprendizagem remota e a alimentação em casa. É necessário enviar cadernos autoinstrucionais às residências, adquirir chips para celulares e providenciar caixas com mantimentos para os mais vulneráveis. Cerca de 83% dos alunos de redes públicas são de famílias que recebem até um salário mínimo per capita.

E agora, com a possível volta às aulas começando a acontecer, o desafio logístico torna-se maior, frente a um calendário de vacinações que não deu prioridade a professores. Nesse sentido, será urgente o exercício de liderança por parte de gestores. Afinal, alguém terá que ser a voz das crianças e jovens menos afluentes e defender que educação é atividade essencial. Sem isso, não haverá futuro para o Brasil!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O TEMPO


Há um valor que eu chamaria de a suprema commodity: o tempo. Toda mercadoria que eu adquiro custa algum tempo da minha vida. Tive de trabalhar para comprar o celular. Troquei tempo de vida trabalhando por um bem. Gente rica troca minutos ou segundos. Outros precisam de meses, anos até... 

Eventualmente, posso gastar para comprar algum tempo. Todos que contratam uma faxineira tentam obter tempo para outras atividades. Eu, se for rico, posso ter centenas de assessores e empregados, para que nada do meu precioso tempo seja desperdiçado ao telefone, limpando ou comprando coisas. Porém, com duzentos contratados ou nenhum, meu tempo se esgota. Essa é a dinâmica cruel da maior commodity, o tempo. Posso torná-lo mais e mais estratégico (mesmo não sendo rico). A pessoa que passa no banco para retirar dinheiro e aproveita para ir ao super na volta e vai respondendo a mensagens enquanto espera na fila do caixa está sendo profundamente estratégica com seu tempo, tanto quanto Bill Gates que possui uma tropa de assessores ao seu dispor. A pessoa comum e Bill Gates têm algo em comum: um tempo infungível, impossível de ser trocado ao final. Quando o tempo acaba, ele, de fato, termina. Parece idiotice repetitiva, porém é a chave da vida. Aproveitando ou não, todos terminam de gastar sua cota de tempo. Posso ampliá-lo, estendê-lo com medidas práticas, economizar e até esbanjar: ele termina. Inexorável. 

Isso indica uma pressa e uma tranquilidade. A pressa é para não gastar em vão esta commodity. Evitar perder tempo. Isso não implica trabalhar como um condenado, todavia, trabalhando ou descansando, lendo ou namorando, sempre ter presente: não perder, não desperdiçar, não gastar com atividades inconscientes. A segunda sensação é uma tranquilidade, como eu disse. Seria como uma bola que está caindo: se você gritar, se ajoelhar, se desesperar ou rir, ela continuará sua trajetória rumo ao solo. O tempo é seu e ele está se esgotando. Você pode ganhar e trocar por outras coisas prazerosas, não pode evitar que ele se esgote. 

Como aproveitar a matéria-prima de vida? Darei exemplos. Não desperdiçando tempo com gente que não vale a pena. Evitando contatos sociais que nada representam. Não fazendo fofocas. Parando de enviar mensagens sem sentido ou povoando caixas de mensagens alheias com imagens despropositadas. Exercer curadoria afetiva ativa. Selecionar sempre! Investir em menos gente com maior vínculo. Quando descansar, entregar-se ao relaxamento. Quando estiver com sua família, entrar de todo coração e cérebro na conversa. Quando trabalhar, focar em um ponto e produzir muito. Isso seria, para mim, o “aproveitar” o tempo. 

Como ficar tranquilo? Pare de correr tanto. Sim, você pode chegar dez minutos mais cedo e, somando meses de pressa, ganhará horas. Só que a vida não tem banco de horas. Você não poderá usar tempo sobressalente ao final. O tempo tem um final, para quem correu muito, pouco ou nem tanto. 

Pergunta central para o ano de 2021: se o tempo é o valor mais importante de todos, com o que eu gastarei, trocarei, insistirei ou aproveitarei o meu tempo? Tempo é vida. Com quem e com o que eu gastarei minha vida-tempo? Quais conversas podem valer, de verdade, a pena? Quais festas, almoços jantares, trabalhos, beijos e abraços são tão importantes que eu possa dizer: aqui estou usando meu tempo infungível, porém, é o que faz esta commodity valer a pena? Com o que eu gastarei lembrando-me de que entrego tempo de vida para cada produto que adquiro? É importante? É fundamental? É indispensável? Se eu respondo sim a tais perguntas, é hora de trocar tempo-vida por mercadoria-tempo, aquilo que eu dizia ser a fungibilidade temporal.