domingo, 12 de janeiro de 2025

A diminuição da média de QI da população: impacto da ausência da leitura no pensamento complexo


Nas últimas décadas, estudos têm apontado para uma preocupante diminuição na média do QI da população em diversos países, fenômeno conhecido como "efeito Flynn reverso". Entre os fatores associados a essa queda, destaca-se o declínio no hábito de leitura. A leitura desempenha um papel essencial no desenvolvimento cognitivo, especialmente no que diz respeito à ampliação do repertório lexical e à capacidade de formular pensamentos complexos.

De acordo com a teoria da interação entre linguagem e cognição, proposta por Lev Vygotsky, o domínio da linguagem é fundamental para o desenvolvimento do pensamento. A leitura expande o vocabulário, o que, por sua vez, facilita o processamento de ideias mais elaboradas e abstratas. Sem esse repertório lexical, o indivíduo encontra dificuldades em compreender e criar conceitos que envolvam raciocínios sofisticados.

A pesquisa conduzida por Anne E. Cunningham e Keith E. Stanovich (1998), publicada no artigo What Reading Does for the Mind, destaca que o hábito de leitura tem um impacto direto no desenvolvimento de habilidades verbais e no aumento do conhecimento geral. Indivíduos que leem frequentemente apresentam um vocabulário mais rico, o que é um dos pilares da inteligência cristalizada – uma das duas principais dimensões do QI.

Além disso, o declínio no tempo dedicado à leitura está diretamente relacionado à substituição por atividades que demandam menor esforço cognitivo, como o consumo passivo de conteúdos em redes sociais ou entretenimento superficial. Esse tipo de consumo, embora possa ser uma forma de relaxamento, não estimula o desenvolvimento de conexões neurais complexas da mesma forma que a leitura.

A falta de leitura também compromete a capacidade de interpretar textos, realizar inferências e articular argumentos – competências indispensáveis para lidar com os desafios do mundo contemporâneo. Em um artigo publicado no Intelligence Journal (Bratsberg & Rogeberg, 2018), foi observado que a queda na média de QI está associada à mudança nos hábitos culturais, incluindo a diminuição de práticas intelectualmente estimulantes, como a leitura e o estudo aprofundado.

Portanto, a diminuição da prática da leitura não apenas enfraquece o conhecimento lexical, mas também inibe o desenvolvimento do pensamento complexo. Para reverter essa tendência, é fundamental promover políticas educacionais que incentivem a leitura desde a infância, bem como conscientizar a população sobre a importância de hábitos culturais que estimulem o cérebro e fortaleçam as bases cognitivas da sociedade.


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