quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A aproximação das atividades escolares com as práticas sociais dos alunos pode ser um caminho emancipatório para o ensino.

Vivemos numa sociedade grafocêntrica. A leitura e a escrita permeiam as interações humanas. Entretanto, na escola, ainda enfrentamos dificuldades no desenvolvimento de atividades que promovam não apenas o aprendizado sobre a linguagem, mas também a conscientização dos alunos a respeito da importância e da centralidade da escrita e da leitura na sociedade.

Pensar a linguagem como prática social é, portanto, repensar o ensino. Infelizmente, a concepção sócio-histórica de escrita, voltada às práticas sociais, nem sempre está presente no dia a dia da sala de aula.

A realidade das escolas públicas tem demonstrado que ainda há um longo caminho entre o que se espera do ensino e o que, de forma geral, tem-se realizado com os alunos.

Uma característica comum tem sido o distanciamento entre as práticas escolares e as práticas sociais, como se escola e sociedade fossem instâncias separadas, e não, na verdade, complementares.

Esse artificialismo no trabalho com a linguagem pouco tem contribuído para que os alunos se tornem, efetivamente, leitores e escritores. Ou seja, que consigam se apropriar, de forma crítica, de novos conhecimentos, imperativos às mudanças sociais e ao processo de transformação de uma sociedade com tantas injustiças.

O que se tem feito em sala de aula parece ter um fim em si mesmo. Após mais de uma década de ensino básico, muitos alunos estão despreparados para utilizarem a leitura e a escrita como ferramentas e para responderem às novas demandas do uso da linguagem nos mais diversos contextos.

Esse problema – o inadequado processo de escolarização na modalidade escrita e a artificialização da produção dos alunos – tem se tornado um obstáculo para uma aprendizagem significativa.

Tal situação faz parte do cotidiano escolar. A insatisfação com a prática docente deve se mostrar uma oportunidade para a busca de teorias que possam colaborar com a ressignificação do trabalho docente como um todo.

Isso se explica pelo fato de que a aproximação das atividades escolares
com as práticas sociais dos alunos pode ser um caminho emancipatório para o ensino.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O que podemos fazer por professores para que eles tenham o que comemorar no dia 15 de outubro?

A sensação de solidão dos professores surgiu agora, na pandemia? Não! É de bem antes. Só ficou agudizada quando eles receberam a responsabilidade de ensinar crianças e de se relacionar com sua classes mediados por uma tela. Foi um sufoco!

Como segurar a atenção dos alunos em aulas virtuais, onde gravar conteúdos específicos, que metodologias usar, onde encontrar os equipamentos necessários e uma internet mais veloz, etc, etc, etc. Foram questões que colaboraram muito para que a condição de solidão docente ficasse cada vez mais forte.

Mas o professor já se sentia terrivelmente só ao perceber que faz parte de uma categoria que costuma ser excluída da sociedade. Não valorizamos seu trabalho, não lutamos por políticas públicas que ofereçam condições dignas de trabalho a eles, não damos importância ao exercício árduo e diário que eles praticam. Não clamamos por investimentos na formação deles, não agradecemos o que fazem por nossa sociedade.

O que podemos fazer por professores para que eles tenham o que comemorar no dia 15 de outubro? Podemos começar por respeitá-los. Criança precisa ter um tempo presente e não apenas um futuro; professor precisa ter o reconhecimento social de seu trabalho.

Precisamos ouvir crianças e professores. Eles podem nos apontar os nortes que devemos seguir para que possamos oferecer melhores condições de infância e de trabalho a eles.

Precisamos exigir de nossos governantes que realizem investimentos na infância e no trabalho docente. Quem sabe assim possamos, sem hipocrisias sociais.

domingo, 10 de outubro de 2021

Todos sentimos na pele os efeitos da pandemia e do isolamento – e as crianças também.

Criança cresce e se desenvolve bem melhor com outras crianças. A escola, na atualidade, é o local em que as crianças encontram seus pares já que a vida pública, nas ruas, nas praças, diminuiu muito para elas. E, de repente, a escola fechou. A pandemia provocou o isolamento social de todos e, principalmente, de crianças.

Com as escolas fechadas, muitas foram as preocupações: falamos em ano perdido, em déficit de aprendizagem, perda de rotina. Pouco tempo depois, consideramos com intensidade a saúde mental afetada das crianças e adolescentes. Agora, estamos ocupados com a volta à escola e ao convívio das crianças e jovens com seus pares. E a dificuldade que muitos deles estão enfrentando tem chamado a atenção de pais e de professores.

Sem dúvida nenhuma, a maioria das crianças estava ávida por retornar – para brincar com os colegas, ter contato regular olho no olho com outros adultos que não os da família. Mas não tem sido fácil para os mais novos, mesmo com todos os benefícios percebidos.

Algumas crianças têm apresentado reações físicas intensas ao ir para a escola e nem conseguem sair do carro ao lá chegar. Outras insistem que aprendem mais e melhor com as aulas remotas... Vamos, antes de tudo, entender o contexto de vida atual dessas crianças. Todos sentimos na pele os efeitos da pandemia e do isolamento – e as crianças também. Elas foram, por um longo período, privadas do contato corporal com avós, tias e tios, primos, amigos da família – e sofreram com isso. E como elas comunicaram esse sofrimento? Quase sempre com sinais evidentes.

Crianças que já haviam conquistado a autonomia possível em relação aos pais passaram a se mostrar dependentes deles; distúrbios do sono e mudanças no estilo alimentar foram frequentes; dificuldades para focar a atenção e pesadelos marcaram presença.

Muitos adultos esperavam que, com o retorno das aulas, as dificuldades infantis ficariam amenizadas, Para muitas crianças isso de fato aconteceu. Mas não para esse grupo que está congelado nos medos, nas inseguranças.

O que fazer? O ato de a criança brincar é capaz de realizar verdadeiras mágicas na vida dela. Mas não se trata só de oferecer brinquedos. Fomentar a autonomia do brincar: essa é a questão. Não, os pais não precisam separar períodos do dia para brincar com os filhos e, sim, devem possibilitar condições de tempo e espaço para que eles possam realizar sua criatividade e fantasias. Em tempo: amigos invisíveis podem ser ótimas companhias para as crianças pequenas.

Atividades do interesse de todos do grupo familiar, como dançar, ler, assistir a filmes ou até jogar videogame podem estimular a criança em sua afetividade, suas relações, sua resiliência. E fortalecer a resiliência dos mais novos é fundamental nessa hora. Escutar o que as crianças dizem é mais importante do que falar a elas. Sem escuta não há diálogo, senhores pais. É preciso superar a sensação de estar ouvindo bobagens infantis para descortinar um universo imenso de significados pessoais, pedidos sutis, questionamentos relevantes. E arte: muita arte para as famílias praticarem e apreciarem, é a melhor dica que posso dar. A arte pode nos salvar de nossos sentimentos confusos, de nossas dores, de nossa dura realidade.