quinta-feira, 15 de julho de 2021

A criança pequena tem como se fosse uma antena que capta os sinais mais sutis de mudanças


O bebê, após o nascimento, sofre. Mesmo sendo muito bem cuidado. É que, em uma gestação regular, ele estava em um ambiente superprotegido, com a temperatura adequada e luminosidade e ruídos que só promoviam o seu bem-estar – a batida do coração da mãe, por exemplo. Após o nascimento, ele perde esse ambiente seguro e entra em outro com luzes, barulhos, sente fome, calor, frio, tem cólicas etc.

É por isso que o bebê chora, aparentemente sem motivo. Ele sente falta daquela segurança. Mas é bom saber que esse sofrimento passa com a adaptação e não deixa marcas que prejudicam o seu desenvolvimento.

Vamos pensar agora em alguns motivos que fazem uma criança pequena sofrer. Uma das sustentações da vida infantil é o vínculo afetivo que tem com os pais e/ou outros adultos que convivem amorosamente com ela e cuidam dela. Esse vínculo é tão intenso que leva a criança a facilmente perceber se há algo que preocupa essas pessoas.

Pois as preocupações, receios, dores e sofrimentos, decepções, tristezas, por exemplo, que acometem esses adultos, fazem a criança sofrer. Nem é preciso haver grandes demonstrações por parte do adulto desse sofrimento. A criança pequena tem como se fosse uma antena que capta os sinais mais sutis de mudanças e isso a faz sentir o sofrimento que ela nem entende.

Na atualidade, com a pandemia e o grande número de mortos, quase a totalidade dos adultos está em luto ou preocupada. E isso afeta até a criança: ela sente o estado de insegurança e tristeza por identificação com os adultos que a cercam.

Até os 3 anos, mais ou menos, quase todos os cuidados com a criança se concentram na saúde física. O pediatra, as vacinas, a amamentação, o sono, o desenvolvimento corporal etc. Quando acontece de a criança adoecer, os tratamentos são focados na doença física. Poucos profissionais têm preparo e cuidado em observar sinais da saúde mental da criança nessa idade. Mas seria preciso e precioso que houvesse esse tipo de atenção porque, desse modo, muitos quadros sérios poderiam ser evitados mais tarde.

Que sinais podem apontar sofrimento psíquico na criança? A organização corporal, o tipo de aconchego físico e de comunicação que a criança tem com o adulto, o choro e as vocalizações e o olhar são alguns exemplos.

No contexto atual, tristezas, choro sem motivo aparente, perturbação do sono e da alimentação, irritação frequente e inibição fazem parte do quadro de estresse pela falta da escola e pela pandemia. Mesmo assim, merecem atenção dos responsáveis.