quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

A necessidade de uma reformulação pedagógica

 O processo educacional sempre foi alvo de constantes discussões e apontamentos que motivaram sua evolução em vários aspectos, principalmente no que tange a condução de metodologias de ensino por nossos educadores e a valorização do contexto escolar formador para nossos alunos. Nesse aspecto GADOTTI (2000:4), pesquisador desse processo afirma que,

Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia. Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova, amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na educação do futuro. (GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação, 2000)

Diante de enumeras transformações sociais, onde informações e descobertas acontecem em frações de segundo, o processo de desenvolvimento da escola entra na pauta como um dos mais importantes aspectos a serem discutidos neste processo, pois é nela que são promovidas as mais importantes formulações teóricas sobre o desenvolvimento cultural e social de todas as nações, dessa forma, a pesquisa educacional acaba tomando um lugar central na busca de perspectivas que possibilitem uma nova prática educacional, envolvendo principalmente os agentes que conduzem o ambiente escolar, transformando o ensino em parte integrante ou principal na motivação dessas transformações.
Com as constantes modificações sofridas por nossa sociedade no decorrer do tempo, dentre elas o desenvolvimento de tecnologias e o aprimoramento de um modo de pensar menos autoritário e menos regrado, os agentes educacionais e a escola de uma maneira geral, vêm vivenciando um processo de mudança que tem refletido principalmente nas ações de seus alunos e na materialização destas no contexto escolar, fato que tem se tornado ponto de dificuldade e insegurança entre professores e agentes escolares de forma geral, configurando em forma de comprometimento do processo ensino-aprendizagem, sobre isso, GADOTTI (2000:6) afirma que,

Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta- se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da universalização da educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência global necessária para indicar caminhos realmente seguros numa época de profundas e rápidas transformações.(GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação, 2000)

A escola contemporânea sofre com o desenvolvimento acelerado que ocorre a sua volta, onde as informações são atualizadas em frações de segundos, ocasionando de certa forma, o desgaste e o comprometimento das ações voltadas para o aprimoramento do ensino, fazendo com que a sala de aula se torne um ambiente de pouca relevância para a consolidação do conhecimento, tornando a vivência social o requisito primordial para a busca de aprendizado, sobre essa escola, AMÉLIA HAMZE (2004:1) afirma em seu artigo “O Professor e o Mundo Contemporâneo”, que

Como educadores não devemos identificar o termo informação como conhecimento, pois, embora andem juntos, não são palavras sinônimas. Informações são fatos, expressão, opinião, que chegam as pessoas por ilimitados meios sem que se saiba os efeitos que acarretam. Conhecimento é a compreensão da procedência da informação, da sua dinâmica própria, e das consequências que dela advém, exigindo para isso um certo grau de racionalidade. A apropriação do conhecimento, é feita através da construção de conceitos, que possibilitam a leitura critica da informação, processo necessário para absorção da liberdade e autonomia mental.(HAMZE, A .O professor e o mundo contemporâneo, 2004)

É perceptível que o saber cientifico e a busca pelo conhecimento, tem fugido do interesse da sociedade em geral, pois a atualização das informações tem ocorrido de forma acessível a todos os segmentos satisfazendo de uma forma geral aos interesses daqueles que as buscam. A escola nesse contexto tem por opção repensar suas ações e o seu papel no aprimoramento do saber, e para isso, uma reflexão sobre seus conceitos didático-metodológicos precisa ser feita, de forma a adequar-se ao momento atual e principalmente colocar-se na postura de organização principal e mais importante na evolução dos princípios fundamentais de uma sociedade, DOWBOR (1998:259), sobre essa temática diz que,

...será preciso trabalhar em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro. Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso e, ao mesmo tempo, criar as condições para aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias.(DOWBOR, L. A Reprodução Social, 1998)

GADOTTI (2000:8), sobre o assunto afirma que seja qual for à perspectiva que a educação contemporânea tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais voltada para a transformação social do que para a transmissão cultural.

Dessa Forma, a prática pedagógica dos agentes educacionais no momento atual, bem como a condução do processo ensino-aprendizagem na sociedade contemporânea, precisa ter como primícia a necessidade de uma reformulação pedagógica que priorize uma prática formadora para o desenvolvimento, onde a escola deixe de ser vista como uma obrigação a ser cumprida pelo aluno, e se torne uma fonte de efetivação de seu conhecimento intelectual que o motivará a participar do processo de desenvolvimento social, não como mero receptor de informações, mas como idealizador de práticas que favoreçam esse processo,

Na sociedade da informação, a escola deve servir de bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando a visão utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma formação geral na direção de uma educação integral. O que significa servir de bússola? Significa orientar criticamente, sobretudo as crianças e jovens, na busca de uma informação que os faça crescer e não embrutecer.(GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação, 2000)

Segundo Ladislau Dowbor (1998:259), a escola deixará de ser “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Prossegue dizendo que pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser determinante sobre o desenvolvimento. A educação tornou-se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não basta “modernizá-la”, como querem alguns. Será preciso transformá-la profundamente.

O professor nesse contexto deve ter em mente a necessidade de se colocar em uma postura norteadora do processo ensino-aprendizagem, levando em consideração que sua prática pedagógica em sala de aula tem papel fundamental no desenvolvimento intelectual de seu aluno, podendo ele ser o foco de crescimento ou de introspecção do mesmo quando da sua aplicação metodológica na condução da aprendizagem. Sobre essa prática, GADOTTI (2000:9) afirma que “nesse contexto, o educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos”.
Ele afirma ainda que,

Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber (não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis.(GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação, 2000)

HAMZE (2004:1) em seu artigo “O Professor e o Mundo Contemporâneo” considera que
Os novos tempos exigem um padrão educacional que esteja voltado para o desenvolvimento de um conjunto de competências e de habilidades essenciais, a fim de que os alunos possam fundamentalmente compreender e refletir sobre a realidade, participando e agindo no contexto de uma sociedade comprometida com o futuro. (HAMZE, A .O professor e o mundo contemporâneo, 2004)

Assim, faz-se necessário à busca de uma nova reflexão no processo educativo, onde o agente escolar passe a vivenciar essas transformações de forma a beneficiar suas ações podendo buscar novas formas didáticas e metodológicas de promoção do processo ensino-aprendizagem com seu aluno, sem com isso ser colocado como mero expectador dos avanços estruturais de nossa sociedade, mas um instrumento de enfoque motivador desse processo.

ATITUDE DE QUERER APRENDER

 “Eu quero aprender”, quantos entram em uma instituição de ensino, desejando realmente Isto? Criou-se uma atmosfera de obrigatoriedade em relação à Escola, justificativas como ; porque todos vão, você tem que ir , tem que saber disto , daquilo , se não estudar não vai ter um bom emprego, não vai ser ninguém na vida ,etc.

Acreditamos que aqueles que ignoram tais ameaças , vislumbram a verdadeira essência da educação ,descobrem que podem e decidem fazer a diferença no meio em que vive , e através disto constroem um olhar crítico e tornam-se grandes questionadores e criadores das marchas.

Questionam o sistema ,o governo, a sociedade, as estruturas, a educação, a saúde, a segurança, etc. Estes são os transformadores conceituais de seu tempo, e tudo porque decidiram aprender a aprender, não que a verdadeira aprendizagem nos transforme em rebeldes sem causa, pois que causa foge aos olhares críticos de quem verdadeiramente aprende.

Temos a tendência de nos cobrar demasiadamente, a ponto de achar que ao sairmos das estruturas educacionais, temos a obrigação de saber tudo .

Se este for o nosso pensamento, infelizmente teremos que recomeçar a nossa caminha escolar, pois não conseguimos perceber a essência da educação, e consequentemente nunca seremos um diferencial em nosso meio, um questionador transformador.

Na educação não obtemos a espada , mas sim o segredo do fogo para forja-la, não desviamos ou anulamos correntes d’agua, mas a transformamos em energia, é na Escola que adquirimos a “Lupa” que nos ajudará a fazer a famosa leitura do mundo , tão defendida e incentivada pelo saudoso educador Paulo Freire.

Para entendermos a verdadeira aprendizagem, teremos que tomar a atitude, de querer aprender a aprender , não por imposição ou obrigação social, mas sim, “porque eu quero”!

Como já dissemos anteriormente , quando decidimos aprender a aprender, entendemos que a importância não está somente nos peixes, mas também na forma de pescá-los. Qual a melhor vara, a isca certa, que lua é a mais indicada, qual o clima mais propício, em que condição a pescaria terá mais êxito, barco ou margem, enfim, são informações que contribuem para uma pescaria prazerosa, segura e produtiva.

Talvez possamos nos perguntar, tudo isto é necessário? Pode até não ser , mas esta é a visão de quem aprende a aprender e desenvolve a aprendizagem, não que se esforcem para isto , pois é com naturalidade que necessitam e procuram tais informações.

O diferencial não está no modo de como veem , mas sim na forma, pois quem desenvolve a aprendizagem através do querer aprender a aprender, busca mais profundidade e com isto adquiri uma forma diferenciada e tridimensional de ver o mundo, ou seja, observam além do plano ,intrigados com o que tem por trás do que se vê.

Entendemos que aprender não é um evento, mas sim um processo, um processo infinito e progressivo , pois quanto mais aprendemos , mais sentimos a necessidade de aprender , pois através da aprendizagem adquirida ,descobrimos que ainda há muito mais à aprender .

O Desenvolvimento da aprendizagem nos impulsiona ao seguinte degrau, pois de que adianta sabermos qual a vara, a isca, a lua, o clima, o barco, enfim várias informações e não discernir suas conexões e finalidades, sem a compreensão deste desenvolvimento, jamais teremos uma pescaria prazerosa, segura e produtiva.

A compreensão das informações e conteúdos agregados durante nossa caminhada escolar é que irão direcionar a nossa “Lupa” para a leitura do mundo.

Certa vez , assistindo a um dos primeiros episódios de “Lost”, um dos sobreviventes estava tranquilíssimo e após o acidente disse aos outros que logo viria o resgate , pois eles (o Governo), localizavam a placa de um carro via satélite, quanto mais um avião. Um outro sobrevivente esclareceu, que somente localizavam o veículo através do satélite , porque sabiam em que área procurar, diferentemente do avião, que estava totalmente fora da rota!

Gostaríamos de usar este exemplo e fazer uma analogia com o nosso assunto, se não compreendemos o que aprendemos, estaremos tão sem ação quanto a equipe de resgate , pois temos o satélite, a tecnologia e os técnicos, porém faltam dados importantes que nos impedem de progredir, de ir além.

Como docentes temos o dever de disponibilizar dispositivos e ferramentas que auxiliem aos discentes progredirem na compreensão de sua aprendizagem, este é o desafio de quem almeja e atreve-se a ser um educador. No art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: [...] III - zelar pela aprendizagem dos alunos; (Inciso III art. 13, LDB). Primar pela aprendizagem do ensino é, antes de tudo, um compromisso profissional e papel social do educador.

Revendo os nossos conceitos subjetivamente construídos em nossa discência, temos a oportunidade de reconstruir o saber, não por orgulho, pois o orgulho não constrói, mas sim pelo desejo de colocar nas mãos de cada discente uma “Lupa”, que ampliará sua visão, porém com a “Lupa”, verão que a atual docência, necessita de uma reforma pedagógica, mas não é este o objetivo da Pedagogia do aprender a aprender, produzir reformadores?

Nenhum docente responsável repreenderá quem deseja aprender a aprender, pois o verdadeiro papel do Educador é intermediar a relação da potencialidade cognitiva do educando com o mundo de possibilidades a sua volta, através da Tríade do Aprender.

A quem cabe a tarefa de educar os filhos nos dias de hoje?

 Nessa nova sociedade, midiática e cheia de atrativos, é muito fácil desviar a atenção dos valores adquiridos para os novos que adentram os lares pelos computadores, televisão, entre outros.

Vem sempre à mente uma questão: A quem cabe a tarefa de educar os filhos nos dias de hoje? A resposta pode ter vindo à cabeça imediatamente e estaria correta. Mas porquê tenho a sensação de que algo está indo pela contramão?

Os filhos estão cada vez mais distantes da convivência familiar (familiar aqui não no sentido da tríade, pai, mãe e filhos, hoje sabemos que o contexto “família” já mudou). Ou estão com seus pares nos shoppings, nos lugares de lazer, ou assistindo TV, na internet, no vídeo game ou cumprindo uma extensa agenda (esportes, música, inglês...). E os pais, por conta dessa nova sociedade, cada vez mais fora de casa também, lutando pela sobrevivência, preocupados em não perder tempo, trabalhando, estudando, lutando mesmo, para que a família tenha melhores condições de vida.

Nessa busca perdem-se pelo caminho alguns valores e o convívio familiar vai ficando cada vez mais escasso.

Educar filhos não é uma tarefa que se aprende com a experiência simples de ter filhos, embora pareça que essa seja a única maneira de aprender. Muito menos a busca por “entendidos”, pois cada qual com sua contribuição formarão uma corrente com elos diferentes.

Educar filhos é mais que ensinar o certo e o errado, é mesmo trabalhar um projeto de vida, em que nele se definem objetivos e metas mesmo, sem querer aqui mecanizar essa tarefa, mas é assim se desejamos bons resultados.

Essa tarefa não se aprende com receitas e nem num passe de mágica, há um longo caminho a ser trilhado. Exige daqueles que dela participam, um esforço concentrado na melhoria das relações familiares e do convívio social.

Deixar de dialogar com os filhos, não ter tempo, além de que suas respostas desconcertantes não nos permitem atuar dentro do papel de "adulto" que aprendemos com nossos pais, parece que o que aprendemos com nossos pais não funcionam, paramos perplexos, e estamos deixando que cresçam sozinhos, perdidos em seus mundos, muitas vezes exercendo uma crueldade ímpar, porque as crianças são naturalmente capazes de crueldades impensáveis e, diferente de nós, elas têm a exata noção do prazer que isto lhes causa. Claro que tudo isso observando-se dentro de um contexto sócio histórico, com efeitos diferentes nas diferentes classes sociais, há que se pensar nessas gerações que hoje são nossas crianças e adolescentes.

O desafio é lutar pela melhor educação dos filhos numa sociedade que se transforma e faz cair por terra tudo o que tecemos durante a vida e aprendemos como certo e arraigado.

Entendo então, que a educação dos filhos ainda cabe em primeiro lugar para a família, ninguém a pode substituir.