segunda-feira, 7 de julho de 2025

O Brasil precisa de reformas sim, mas não as reformas que a elite quer


 

Nos últimos anos, o Brasil tem sido palco de uma série de reformas anunciadas como necessárias para “modernizar” o Estado, garantir o equilíbrio fiscal e atrair investimentos. No entanto, por trás desse discurso técnico e aparentemente neutro, esconde-se um projeto de país que privilegia os interesses da elite econômica em detrimento da maioria da população. A reforma da Previdência, a flexibilização das leis trabalhistas e a proposta de reforma administrativa são exemplos claros de como o ônus das mudanças recai, quase sempre, sobre os mais pobres, os trabalhadores e o funcionalismo público de base.

A reforma da Previdência, aprovada em 2019, foi vendida como essencial para salvar o sistema da falência. No entanto, o que se viu foi um endurecimento das regras de acesso à aposentadoria, especialmente para quem começa a trabalhar cedo e ganha pouco. A exigência de idade mínima e o aumento do tempo de contribuição penalizam quem não tem estabilidade no emprego — a realidade da maioria dos brasileiros. Enquanto isso, militares e políticos continuaram com privilégios preservados, revelando a seletividade da reforma: para alguns, sacrifício; para outros, exceção.

A reforma trabalhista de 2017 seguiu a mesma lógica. Sob o pretexto de gerar empregos, retirou direitos históricos dos trabalhadores, como o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical sem oferecer alternativa de financiamento para a defesa coletiva dos trabalhadores. Instituiu o trabalho intermitente, precarizou vínculos e fortaleceu a informalidade. O resultado? O desemprego não diminuiu significativamente, os empregos gerados são, em sua maioria, mal remunerados e sem garantias, e a desigualdade social se aprofundou.

Agora, discute-se a reforma administrativa, com foco na redução de custos do Estado. Mas, novamente, a proposta mira nos servidores da base — professores, enfermeiros, técnicos administrativos — e não nos altos salários do Judiciário ou nos supersalários do Legislativo. A ideia de um Estado “mais eficiente” acaba servindo de pretexto para enfraquecer os serviços públicos essenciais, especialmente os que atendem a população mais pobre, como saúde e educação.

Essas reformas não foram feitas para corrigir injustiças ou democratizar o acesso aos direitos. Foram pensadas para proteger interesses do mercado financeiro e garantir a concentração de renda. O Brasil precisa de reformas sim, mas de reformas verdadeiramente estruturais, como uma reforma tributária progressiva, que taxe os mais ricos, os lucros e dividendos, grandes fortunas e heranças bilionárias. Reforma que não venha para sacrificar o povo, mas para distribuir os encargos com justiça.

Mais do que isso, precisamos urgentemente de uma reforma política. Um sistema que permite o financiamento empresarial de campanhas, a perpetuação de oligarquias regionais no poder e o descolamento entre representantes e representados não pode gerar leis que beneficiem o povo. A política brasileira precisa ser democratizada: com mais transparência, participação popular, incentivo à diversidade e ao protagonismo das periferias.

Enquanto as reformas continuarem sendo decididas por quem não depende do transporte público, da escola pública ou do SUS, o resultado será sempre o mesmo: concentração de poder e riqueza para poucos, e sacrifício para muitos. O Brasil precisa mudar, mas não da forma como a elite propõe. É hora de ouvir o povo, de reformar o sistema que perpetua desigualdades e de construir um país mais justo e igualitário para todos.

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