quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Professores despreparados para o método adotado no país comprometem desempenho no Pisa

O desempenho brasileiro abaixo da média no relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos  passa por um ciclo vicioso em que o sistema educacional adotado no país - o construtivismo - não funciona porque os professores estão despreparados para aplicá-lo com eficiência. É base do construtivismo que professores trabalhem como tutores e ensinem os alunos a 'construírem', organizarem e controlarem o seu conhecimento. Sem o preparo adequado, quem deveria ser o condutor do aprendizado pode tirá-lo dos trilhos.

Para Cláudio Gomide, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), a desvalorização social do papel do professor reflete em profissionais sem formação inicial e continuada. "Sem um regime de trabalho justo e plano de carreira é impossível que uma instituição mantenha um corpo docente de qualidade apto à função de ensinar”, diz. “Optar por um modelo democrático construtivista requer professores preparados e essa é justamente a carência do Brasil”, afirma Neide Noffs, coordenadora do curso de Psicopedagogia da Faculdade de Educação da PUC-SP. A especialista ainda completa: “É preciso que existam propostas pedagógicas adequadas a cada região. O Brasil é muito grande e não é possível abordar a educação de um ponto de vista único em todos os estados”. 
Embora a posição do Brasil no ranking do Pisa seja insatisfatória, os números indicam uma pequena evolução, se comparados aos dados de 2006. Noffs associa essa melhora a algumas mudanças de legislação que ocorreram nos últimos anos. Ela cita, por exemplo, a recente obrigatoriedade na apresentação de planos curriculares na rede pública municipal. “A fiscalização melhorou, mas é preciso que o país acompanhe de perto essas medidas operacionais”, lembra.   
Para Gomide, o tímido aperfeiçoamento está vinculado ao crescimento da inclusão educacional no Brasil.  “Mais crianças começaram a frequentar a escola e isso melhora o desempenho de modo geral, mas não é suficiente para elevar o nível do setor”, pondera. “Ainda sofremos com a falta de acesso à informação e com o total desconhecimento dos valores que movem cada aluno”, ressalta o especialista ao citar as razões pelas quais os brasileiros são tão mal avaliados em exames internacionais. 
Problema invisível – Segundo o relatório do Pisa, com base na opinião de escolas brasileiras, o uso de álcool e drogas ilícitas, aliado a prática do bullying - palavra inglesa usada para designar o ato de intimidar e atormentar –, é o que mais compromete o rendimento dos alunos brasileiros. O problema é velho conhecido de países ricos, como Estados Unidos e Grã-Bretanha, mas parece comprometer mais a educação por aqui do que em nações desenvolvidas. 
De acordo com os especialistas, há motivos de sobra para tais fatores influenciarem o setor no Brasil. “Faltam psicólogos nas escolas que possam ajudar os alunos e a sociedade a enfrentarem esses problemas. Hoje todas essas questões ficam nos ombros dos professores, que se dividem entre vários colégios para conseguir renda”, lembra Gomide. Noffs concorda com o acadêmico e complementa: “As medidas de penalização em outros países são mais severas. Nos EUA, por exemplo, um aluno de oito anos pode ser preso se for flagrado praticando o bullying. Aqui a gente simplesmente finge que isso não acontece.”

FELIZ ANO NOVO!!!!!!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Só e bem acompanhado...

Uma das melhores maneiras de encarar a vida é aprender a ficar só, mesmo em meio a uma multidão. Estranho não. Mas eu as vezes me vejo assim, em meio a uma multidão e só. E considero isto uma virtude, pois assim posso refletir sobre minha vida, sobre tudo e procurar fazer sempre melhor... É um aprendizado duro, pois quase sempre queremos estar no centro das atenções, se o nosso cachorro brinca com outra pessoas já nos causa ciúmes, ficamos felizes, mesmo sem revelar, quando ele estranha os outros, assim pensamos que ele só gosta de nós, este é o nosso egoísmo que disfarçamos e saboreamos intimamente. Viver é mais que ter ou ser, viver é, principalmente respeitar... este é o princípio de tudo, sem respeito não a vida ou sociedade. Que neste Natal aprendamos a respeitar o próximo e, principalmente, aprendamos a respeitar a nós mesmos... este já é um passo muito importante.

FELIZ NATAL A TODOS...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Plano Nacional da Educação é encaminhado ao Congresso

O projeto de lei do Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2011-2020 foi encaminhado ao Congresso Nacional na manhã desta quarta-feira 15. A solenidade ocorreu no Palácio do Planalto com participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Educação, Fernando Haddad, além de representantes da Conferência Nacional de Educação (Conae), responsáveis pela elaboração da nova proposta.
Criado em 1996 para estabelecer os principais objetivos da educação nacional por dez anos, a primeira versão do PNE, que vigorou entre 2001 e 2010, foi marcada pelo excesso de metas. Das 295, menos de 30% foi cumprida até o final deste ano. “O importante é fixar menos metas e fiscalizá-las. Quando se vigia a ação, fica mais fácil adequar os meios às finalidades propostas”, defendeu o pedagogo Dermeval Saviani em entrevista à Carta na Escola (leia a matéria de Fernando Vives). Nesse aspecto, o novo PNE parece ser promissor: são 20 metas e dez diretrizes objetivas que contemplam valorização dos professores, acesso aos ciclos de ensino do infantil ao superior, alfabetização, entre outros.
Outro ponto que diferencia os dois planos trata de financiamento. Quando foi aprovado, o primeiro PNE previa que 7% do PIB brasileiro deveria ir para a educação, mas o então presidente Fernando Henrique Cardoso vetou a proposta. Com a aprovação da Emenda Constitucional 59, no final de 2008, o Presidente da República fica obrigado a destinar um porcentual do PIB à área. O texto enviado ao congresso por Haddad e Lula estipula os mesmos 7%.
Uma vez enviado ao Congresso, o projeto de lei será discutido no próxima administração. A previsão é de aprovação no primeiro semestre de 2011.
Metas e desafios
Cerca de 20% das metas afetam a valorização e formação do corpo docente. Primeiro, o PNE estipula que todos os professores do ensino básico deverão ter ensino superior, sendo metade com formação continuada com pós-graduação. Além do mais, os sistemas de ensino terão de elaborar, num prazo de dois anos, planos de carreira para o magistério.
As metas do PNE são as seguintes:
1.Universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos.
2.Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de 6 a 14 anos.
3.Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa-etária.
4.Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular.
5.Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os oito anos de idade.
6.Oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica.
7.Atingir as seguintes médias nacionais para o IDEB até 2021
Anos iniciais do ensino fundamental: 6,0
Anos finais do ensino fundamental: 5,5
Ensino médio: 5,2
8.Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos de modo a alcançar mínimo de 12 anos de estudo para a população do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.
9.Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.
10.Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
11.Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta,
12.Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta.
13.Elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores.
14.Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu por meio das agências oficiais de fomento.
15.Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
16.Formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua área de atuação.
17.Valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente.
18.Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de ensino.
19.Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar.
20.Ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do produto interno bruto do país.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Jovens, privacidade e a internet


Pesquisa realizada por empresa de segurança da informação mostra que as redes sociais dominam as atividades dos adolescentes na rede
Uma pesquisa desenvolvida pela McAfee, empresa especializada em segurança da informação, analisou o comportamento dos jovens na internet. Com o título A vida secreta dos adolescentes: o comportamento dos jovens na Web, o trabalho indica que navegar nas redes sociais é hoje a principal atividade do público de 13 a 17 anos na rede, com 83% de adeptos. Logo atrás, com 82%, aparecem os programas de mensagem instantânea, como MSN Messenger, seguido por e-mails e compartilhamento de fotos.
O Brasil tem 17 milhões de jovens nessa faixa-etária, sendo que 12,5 milhões afirmam terem acessado a internet nos últimos três meses. Destes, 77% são os chamados heavy users, ou seja, se conectam mais do que seis vezes por semana.
Encomendada à TNS, empresa de pesquisa de mercado, o levantamento deu especial atenção aos riscos que o compartilhamento de informações pode representar aos jovens. O primeiro nome é a identificação mais divulgada pelos usuários (54%), seguido de perto pelo e-mail e pela idade; um quarto deixa visível o nome da escola, 9% o número do telefone de casa, 7% o endereço da residência e 4% o número do CPF, o que pode, segundo os realizadores da pesquisa, facilitar ações de ameaça virtual.
Bullying e segurança na rede
Quando perguntados sobre segurança no ambiente virtual, 72% disseram conhecer alguém próximo que tenha sofrido ciberbullying, agressão e intimidação online realizada por outros jovens, principalmente do ambiente escolar. Já 20% tiveram suas senhas roubadas pelo menos uma vez e 50% tiveram seus computadores afetados por vírus.
A relação com os pais também foi abordada. Dos adolescentes, 54% disseram que são questionados pelos responsáveis a respeito dos sites visitados, sendo que metade realizou acordos com os pais sobre o que é permitido acessar na internet. Apesar da grande maioria (88%) afirmar que os adultos acreditam que eles usam a Web corretamente, 39% não revelam o que fazem na internet. Além do mais, 32% tem como costume limpar o histórico do navegador e 39% minimizam o conteúdo acessado toda vez que um adulto se aproxima.
A pesquisa amostral foi realizada, por meio de formulário online, com 400 jovens com idade entre 13 e 17 anos que se conectam pelo menos uma vez por semana.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A solidão do(a) professor(a) de ensino básico - Por: Rudá Ricci

O mais comentado e-mail entre educadores de Minas Gerais é a carta que a professora Áurea Regina Damasceno enviou à Secretária de Educação de Belo Horizonte. É um depoimento dramático e cru sobre o cotidiano das salas de aula, desde sempre desconsiderado pelos gestores da educação de nosso país.

Os gestores caminham, com raras exceções, na contramão, confrontando a realidade e penalizando professores. A última invenção, totalmente sem sentido, é a introdução da premiação (ou certificação) para professores que possuem turmas com bom desempenho escolar. Somente quem desconhece a realidade educacional do país poderia elaborar algo tão sem sentido.

Mas a carta da professora Áurea fala mais alto. A carta inicia com uma justificativa até certo ponto simplória: “Que me desculpem todos vocês, mas a realidade não pode ser desconsiderada! Não dá mais para entrar no jogo do "ensaio sobre a cegueira"!”. Daí, passa a relatar um cenário de horror que, infelizmente, faz coro com a realidade de tantas outras escolas brasileiras e parece reproduzir o roteiro do filme “Entre Muros da Escola”.

Reproduzo algumas passagens:

“Hoje, dia 19 de março de 2009, vou mais um dia para a escola, desanimada e certa de que as aulas que preparei para os alunos do 3º ciclo, 1º turno, não serão dadas. Mas busco entusiasmo não sei onde, entro para a sala de aula (sala 10, 6ª série) e inicio repetindo o que tenho falado com os alunos desde o primeiro dia de aula: coloquem o caderno, a agenda, o lápis, caneta, borracha, régua, tesoura sobre a mesa e guardem a mochila debaixo da carteira ou dependurada no encosto da cadeira (muitos se deitam, durante a aula, na mochila para dormir ou se escondem atrás dela para dar gritos ensurdecedores sem motivo algum ou para atirar bolinhas de papel enfiadas no corpo das canetas esferográficas).”

“Essa atividade demanda mais ou menos uns 20 min., pois metade da sala não ouve ou finge que não ouve, continua a correr pela sala, está virada para trás conversando, está subindo nas bancadas sobre as janelas e de lá pulando de cadeira em cadeira e outros tantos estão a olhar no vazio, sem nada fazer.”

“Pergunto por que estão sem a agenda e sem as folhas, várias respostas: esqueci, meu irmão rasgou, fiz bolinha de papel, fulano (referindo-se a um colega de sala, ou mesmo de outras salas que durante os intervalos invadem como loucos as salas vizinhas, batem, jogam mochilas pelas janelas, rasgam material, andam sobre as carteiras) pegou, rasgou ou fez bolinha de papel, rasguei porque achei que não iria precisar (ah, seria tão fácil se você os colocasse então em duplas para fazerem a atividade, penso eu). Ah! sim, seria, e a responsabilidade e o compromisso ficariam para ser construídos não se sabe quando."

Rudá Ricci - Sociólogo, doutor em Ciências Sociais, integrante do Fórum Brasil de Orçamento e do Observatório Internacional da Democracia Participativa.