quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Querido 2021, seja bem-vindo!

 Querido 2021, seja bem-vindo!

Entre, a casa é sua.

Se não for pedir demais, nos devolva, por favor, todos os abraços que seu prezado antecessor nos roubou. Queremos também as gargalhadas dos parentes e amigos, o livre sorriso dos desconhecidos, a brisa no rosto. Gostaríamos ainda de ter de volta a alegria das viagens; a tumultuosa euforia dos estádios e dos grandes shows; todas as tardes em que não fomos beber cerveja com os amigos no boteco da esquina.

Não se esqueça de nos devolver aqueles jantares intermináveis, em que discutíamos o fim do mundo e como iríamos recomeçá-lo. Hoje, que sabemos muito mais sobre o fim do mundo, essas conversas antigas me parecem todas um tanto ou quanto ingênuas. Contudo, mais do que antes, é importante conversar sobre recomeços. Trocar sonhos. Debater utopias.

Eu, que não sou de futebol nem de carnaval, agora sinto ânsias de me perder entre multidões, gritando, sambando, abraçando, me descobrindo nos outros. Quero dançar sem culpa. Quero poder voltar a abraçar meus velhos pais sem medo de os contaminar.

A maior invenção da Humanidade não foi a roda nem o fogo. Não foi o futebol, a feijoada, o samba, o xadrez, a literatura, sequer a internet. A maior invenção da Humanidade, querido 2021, foi o abraço. Olho para trás e vejo a primeira mãe, acolhendo nos braços o filho pequeno. O nosso pai primordial apertando contra o peito forte (e peludo) a mulher amada; dois amigos se consolando numa armadura de afeto. Depois desses primeiros abraços, alguma coisa mudou para sempre. O mundo continuou perigoso, sim, o mundo será sempre perigoso, mas passamos a ter o conforto de um território inviolável. Foi o abraço que fundou a civilização.

Com elevada estima,

*José Eduardo Agualusa Alves da Cunha (jornalista, escritor e editor)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Em férias no meio da pandemia

Este será um fim de ano, com suas costumeiras festividades, bem diferente para cada um de nós. Para as crianças e jovens, então, nem se fala! Em primeiro lugar, a criançada nem pode comemorar a chegada das férias, sinônimo para eles de ficar mais tempo em casa com os pais, de viajar, de fazer programas com a família toda, de brincar com amigos e colegas e de ficar livre das aulas, dos estudos obrigatórios e de todos os compromissos e horários resultantes da vida escolar.

Férias estranhas, essas: quase não frequentaram a escola o ano todo e muitos tiveram aulas e estudos dirigidos remotamente, o que foi, vamos reconhecer, um auê, principalmente para as crianças menores. O que era, até então um brinquedo - os aparelhos tecnológicos - passou a ter de ser encarado como instrumento de estudo.

A pandemia tirou muita coisa das crianças e, nas férias delas, resolveu trabalhar com mais afinco ainda. Precisamos ver o que é passível de reparação para elas nessa história, pelo bem da saúde mental da família toda, certo?

É possível tentar mudar alguma coisa no cotidiano delas? Essa é uma boa pergunta a ser feita pelos pais. Afinal, férias tinham o sabor de mudança de organização dos dias, não é? Então, uma boa pode ser introduzir, a cada dia, uma pequena mudança. Sim, eu sei que os pais estão exaustos e esgotados, mas criança entretida e alegre dá menos trabalho, lembre-se disso.

Outra dica é organizar atividades que eles nunca fizeram antes, ou que fizeram poucas vezes. Criança adora novidade e surpresas. Os pais precisam saber antecipadamente que nem toda surpresa é bem recebida por eles, mas esse fato já é, por si só, uma boa lição para pais e filhos. Para os pais, é uma deixa para que conheçam melhor os filhos. Para estes, que aprendam a se entregar ao que a vida pode oferecer no momento. Uma boa lição para se aprender na infância, já que muitos adultos não conseguem fazer isso.