domingo, 27 de julho de 2025

O Bom Samaritano e a Sociedade Brasileira: Uma Reflexão Sobre Indiferença e Empatia

Na Parábola do Bom Samaritano, Jesus narra a história de um homem que, ao viajar de Jerusalém para Jericó, “caiu nas mãos de salteadores, os quais, tendo-o despojado e espancado, retiraram-se, deixando-o meio morto” (BÍBLIA, Lucas 10:30). Diante do homem ferido, dois religiosos — um sacerdote e um levita — passam e, deliberadamente, ignoram sua dor: “vendo-o, passaram de largo” (Lucas 10:31-32). Apenas um samaritano, considerado socialmente desprezado na época, interrompe sua jornada, socorre o homem, cuida de suas feridas e garante sua estadia em segurança (Lucas 10:33-35).

Quando olhamos para o Brasil atual, a parábola ressoa como uma denúncia silenciosa sobre a indiferença crescente diante do sofrimento coletivo. Em tempos de polarização, discursos de ódio e desprezo pelos mais vulneráveis, muitos parecem agir como o sacerdote e o levita, virando o rosto para quem sofre por questões sociais, econômicas ou humanitárias, justificando a omissão com ideologias, discursos de “mérito individual” ou até usando a religião para legitimar a falta de compaixão.

A parábola nos provoca a perguntar: quem somos nós nessa história? Vivemos em uma sociedade em que milhares enfrentam fome, violência, desamparo e preconceito. Enquanto muitos defendem políticas e narrativas que reduzem direitos ou reforçam divisões, poucos se dispõem a ser o “samaritano” que enxerga o outro como próximo, não como adversário.

Jesus encerra a narrativa com um chamado claro: “Qual destes três te parece que foi o próximo do que caiu nas mãos dos salteadores? (...) Vai e faze da mesma maneira” (Lucas 10:36-37). A parábola, mais do que uma lição religiosa, é uma convocação ética: em uma nação tão marcada por desigualdade e intolerância, ser “próximo” significa ultrapassar fronteiras ideológicas e praticar a solidariedade, mesmo quando é impopular ou exige sacrifícios pessoais.


Referência (ABNT):

BÍBLIA. Português. Lucas 10:25-37. In: BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

A Parábola do Semeador e a Realidade Contemporânea

 A Parábola do Semeador, narrada por Jesus e registrada nos Evangelhos (Mateus 13:3-9), traz uma mensagem atemporal sobre a receptividade do ser humano à Palavra e aos valores espirituais. O texto bíblico afirma: 

“Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra; e logo nasceu, porque não tinha terra profunda; mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra caiu em boa terra, e deu fruto: uma, cem; outra, sessenta; e outra, trinta por um” (BÍBLIA, Mateus 13:3-8).

Nos dias atuais, essa parábola pode ser comparada à maneira como as pessoas recebem e vivenciam valores espirituais e éticos em meio a uma sociedade marcada pela pressa, pelo consumo e pela superficialidade. As sementes que caem “à beira do caminho” representam aqueles que, em meio à correria e distrações modernas, não se abrem para reflexão ou crescimento espiritual, sendo rapidamente influenciados por modismos e informações superficiais, como se a mensagem fosse “comida pelas aves”.

As sementes que caem em “lugares pedregosos” refletem pessoas que, embora recebam a mensagem com entusiasmo, não criam raízes, abandonando princípios e valores diante de desafios ou pressões sociais, tal como ocorre com muitos que se deixam levar pela instabilidade emocional e pelas mudanças rápidas da vida contemporânea.

Aquelas que caem entre “espinhos” se relacionam com pessoas que deixam que as preocupações financeiras, a busca incessante por status e os prazeres passageiros “sufocam” o crescimento interior, como muitos que priorizam o consumo e a aparência, negligenciando valores que promovem paz e propósito de vida.

Por fim, a semente que cai em “boa terra” representa aqueles que, mesmo em uma sociedade acelerada e cheia de distrações, cultivam a fé, a ética e a empatia, transformando esses valores em frutos concretos, impactando positivamente suas vidas e a de outros: “E o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a entende; e dá fruto” (BÍBLIA, Mateus 13:23).

Dessa forma, a parábola continua atual, convidando-nos a refletir sobre qual tipo de solo temos sido e como podemos nos tornar “boa terra” em meio aos desafios do mundo moderno.


Referência (ABNT):

BÍBLIA. Português. Mateus 13:3-23. In: BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Por que eu acredito em Deus!



A crença em Deus é, para mim, uma convicção que transcende a razão e se fundamenta na experiência, na revelação e na fé. A Bíblia, como fonte de sabedoria espiritual e histórica, oferece fundamentos sólidos que justificam minha crença, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.

No Antigo Testamento, Deus se revela como Criador e Sustentador da vida. O livro de Gênesis afirma: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (GÊNESIS, 1:1). Essa declaração não apenas estabelece a origem divina do universo, mas também aponta para um Deus soberano e intencional. O salmista reforça essa visão ao dizer: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (SALMOS, 19:1), revelando que a natureza é testemunha da existência divina.

Além disso, a relação de Deus com o ser humano é marcada por amor e justiça. Em Jeremias, lemos: “Com amor eterno te amei; por isso, com benignidade te atraí” (JEREMIAS, 31:3). Essa expressão de afeto divino é um dos pilares da minha fé: acreditar em um Deus que ama e se aproxima de nós.

No Novo Testamento, essa revelação se torna ainda mais clara por meio da pessoa de Jesus Cristo. Em João, está escrito: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (JOÃO, 3:16). Essa passagem é central para minha crença, pois mostra que Deus não é apenas uma ideia abstrata, mas um ser que age na história para salvar e transformar.

O apóstolo Paulo também reforça essa fé racional e espiritual ao afirmar: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (HEBREUS, 11:1). A fé, portanto, não é ausência de razão, mas confiança em uma realidade maior que ultrapassa o visível.

Assim, acredito em Deus porque vejo Sua presença na criação, experimento Seu amor na minha vida e reconheço Sua ação redentora por meio de Cristo. A Bíblia, como Palavra inspirada, é o alicerce que sustenta essa crença.

- BÍBLIA. Gênesis 1:1. Tradução Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

- BÍBLIA. Salmos 19:1. Tradução Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

- BÍBLIA. Jeremias 31:3. Tradução Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

- BÍBLIA. João 3:16. Tradução Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

- BÍBLIA. Hebreus 11:1. Tradução Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

O "erro" mais cruel da direita brasileira



Em meio ao debate político nacional, poucas propostas se mostram tão perigosas e cruéis quanto a ideia defendida por setores da direita brasileira de desvincular os recursos constitucionais destinados à saúde e à educação, além de atacar os pisos salariais nacionais e o salário mínimo. Sob o argumento de que é preciso dar mais “liberdade de gestão” aos governantes, o que se esconde, na verdade, é um projeto de desmonte do Estado Social brasileiro, com consequências devastadoras principalmente para os mais pobres.

A vinculação obrigatória de recursos para saúde e educação, prevista na Constituição de 1988, não é um capricho nem uma trava burocrática. É uma garantia mínima de que os direitos sociais fundamentais não ficarão à mercê da vontade política dos governos de plantão, muito menos das oscilações do mercado. É essa proteção constitucional que impede que gestores usem o dinheiro público de forma arbitrária, redirecionando verbas para áreas que interessam mais aos grandes grupos econômicos do que ao povo brasileiro.

Ao defender a desvinculação, a direita brasileira tenta naturalizar a ideia de que os direitos sociais são despesas excessivas, e não investimentos essenciais. No entanto, qualquer país minimamente comprometido com a justiça social sabe que educação e saúde públicas de qualidade são o alicerce do desenvolvimento humano, econômico e democrático. Reduzir seus recursos significa empurrar ainda mais a população vulnerável para as margens da cidadania.

O mesmo vale para os pisos salariais nacionais e o salário mínimo. Essas conquistas, duramente alcançadas, garantem um mínimo de dignidade aos profissionais da educação, da saúde, da segurança e a milhões de trabalhadores formais e informais. A proposta de sua flexibilização ou eliminação, sob o argumento de “adequação fiscal”, é, na prática, um convite à exploração do trabalho, à precarização das condições de vida e ao aprofundamento da desigualdade.

O que está por trás dessas propostas é uma lógica perversa: entregar aos governantes — sobretudo os alinhados ao mercado e às elites econômicas — o poder de decidir onde, como e para quem o dinheiro público será usado, sem as amarras da Constituição, sem a obrigatoriedade de garantir os direitos básicos. Isso não é eficiência administrativa, é liberdade para governar em favor dos mais ricos e contra os mais pobres.

O erro mais cruel da direita brasileira não é apenas técnico ou econômico — é ético. É o erro de tratar a educação como gasto, e não como investimento; de tratar a saúde como mercadoria, e não como direito; de enxergar os trabalhadores como obstáculos ao crescimento, e não como protagonistas do país. É a crueldade de pensar um Brasil que cabe no orçamento, mas não cabe no coração e nas necessidades do seu povo.

Se queremos um país mais justo, precisamos reafirmar com firmeza: recursos para a saúde e educação não podem ser negociados; o salário mínimo não é problema, é solução; e direitos não podem ser tratados como privilégios. Desvincular recursos públicos é desvincular o Estado de seu povo. E esse, sem dúvida, é o erro mais cruel que uma nação pode cometer.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

A Necessidade Urgente de uma Reforma Política



A cena política brasileira, muitas vezes, assemelha-se a um palco onde se desenrolam espetáculos de cifras astronômicas e escândalos recorrentes. A quantidade de dinheiro manipulada pelos deputados, seja através de orçamentos, fundos partidários ou as nebulosas emendas parlamentares, atinge patamares que desafiam a compreensão do cidadão comum. Em meio a notícias quase diárias de corrupção, desvios e privilégios, a indignação da população se intensifica.

Diante desse cenário, uma pergunta ecoa e se torna cada vez mais urgente: qual foi o último projeto de lei, proposto e aprovado pela Câmara dos Deputados, que realmente impactou de forma significativa e positiva a vida da população mais necessitada, que, ironicamente, constitui a vasta maioria do Brasil? A resposta, para muitos, é um silêncio ensurdecedor ou uma lista de iniciativas com efeitos pouco perceptíveis no dia a dia de quem mais precisa.

Não precisamos de mais cadeiras no Congresso, inchando a máquina pública com novos salários e benefícios. O que o Brasil clama é por mais trabalho efetivo em prol da maioria da população. Urge um sistema mais transparente para a destinação e fiscalização do dinheiro público, especialmente no que tange às emendas, que frequentemente se tornam balcões de negócios e barganhas políticas. É inadmissível que, enquanto milhões de brasileiros lutam por acesso básico a saúde, educação e saneamento, os representantes eleitos priorizem a aprovação de projetos que beneficiam a si mesmos, suas corporações e as elites do país, perpetuando um ciclo de desigualdade e descrédito na democracia. A reforma política não é apenas um desejo; é uma necessidade imperativa para a construção de um país mais justo e equitativo.

O Brasil precisa de reformas sim, mas não as reformas que a elite quer


 

Nos últimos anos, o Brasil tem sido palco de uma série de reformas anunciadas como necessárias para “modernizar” o Estado, garantir o equilíbrio fiscal e atrair investimentos. No entanto, por trás desse discurso técnico e aparentemente neutro, esconde-se um projeto de país que privilegia os interesses da elite econômica em detrimento da maioria da população. A reforma da Previdência, a flexibilização das leis trabalhistas e a proposta de reforma administrativa são exemplos claros de como o ônus das mudanças recai, quase sempre, sobre os mais pobres, os trabalhadores e o funcionalismo público de base.

A reforma da Previdência, aprovada em 2019, foi vendida como essencial para salvar o sistema da falência. No entanto, o que se viu foi um endurecimento das regras de acesso à aposentadoria, especialmente para quem começa a trabalhar cedo e ganha pouco. A exigência de idade mínima e o aumento do tempo de contribuição penalizam quem não tem estabilidade no emprego — a realidade da maioria dos brasileiros. Enquanto isso, militares e políticos continuaram com privilégios preservados, revelando a seletividade da reforma: para alguns, sacrifício; para outros, exceção.

A reforma trabalhista de 2017 seguiu a mesma lógica. Sob o pretexto de gerar empregos, retirou direitos históricos dos trabalhadores, como o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical sem oferecer alternativa de financiamento para a defesa coletiva dos trabalhadores. Instituiu o trabalho intermitente, precarizou vínculos e fortaleceu a informalidade. O resultado? O desemprego não diminuiu significativamente, os empregos gerados são, em sua maioria, mal remunerados e sem garantias, e a desigualdade social se aprofundou.

Agora, discute-se a reforma administrativa, com foco na redução de custos do Estado. Mas, novamente, a proposta mira nos servidores da base — professores, enfermeiros, técnicos administrativos — e não nos altos salários do Judiciário ou nos supersalários do Legislativo. A ideia de um Estado “mais eficiente” acaba servindo de pretexto para enfraquecer os serviços públicos essenciais, especialmente os que atendem a população mais pobre, como saúde e educação.

Essas reformas não foram feitas para corrigir injustiças ou democratizar o acesso aos direitos. Foram pensadas para proteger interesses do mercado financeiro e garantir a concentração de renda. O Brasil precisa de reformas sim, mas de reformas verdadeiramente estruturais, como uma reforma tributária progressiva, que taxe os mais ricos, os lucros e dividendos, grandes fortunas e heranças bilionárias. Reforma que não venha para sacrificar o povo, mas para distribuir os encargos com justiça.

Mais do que isso, precisamos urgentemente de uma reforma política. Um sistema que permite o financiamento empresarial de campanhas, a perpetuação de oligarquias regionais no poder e o descolamento entre representantes e representados não pode gerar leis que beneficiem o povo. A política brasileira precisa ser democratizada: com mais transparência, participação popular, incentivo à diversidade e ao protagonismo das periferias.

Enquanto as reformas continuarem sendo decididas por quem não depende do transporte público, da escola pública ou do SUS, o resultado será sempre o mesmo: concentração de poder e riqueza para poucos, e sacrifício para muitos. O Brasil precisa mudar, mas não da forma como a elite propõe. É hora de ouvir o povo, de reformar o sistema que perpetua desigualdades e de construir um país mais justo e igualitário para todos.

A SELETIVIDADE DA MORAL



É fascinante observar a facilidade com que muitos de nós erguem o dedo para julgar os erros alheios. Parece haver um prazer quase intrínseco em destacar as falhas do próximo, em desmoralizar condutas que consideramos questionáveis. No entanto, essa postura, muitas vezes, revela uma incoerência gritante: a mesma mão que aponta, frequentemente carrega em si as marcas de erros idênticos, ou até piores, que convenientemente ignoramos em nós mesmos.

A honestidade, nesse cenário, mostra-se uma virtude frágil e seletiva. Condenamos o político corrupto que desvia milhões, mas silenciamos quando um conhecido usa "gato" na TV a cabo ou baixa softwares piratas. Ora, a ilegalidade não se mede pela escala do delito, mas pela violação da lei. Usar TV pirata, explorar softwares pirateados ou burlar impostos, por exemplo, são atos que, em sua essência, partem da mesma raiz de desonestidade que criticamos veementemente nos grandes escândalos. A moral seletiva não anula o erro; apenas o esconde sob a conveniência de um julgamento conveniente. É preciso, antes de apontar, olhar para dentro e reconhecer que a integridade se constrói na coerência de todas as nossas ações.