quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O Silêncio do Último Dia

            O portão rangeu ao ser empurrado. O professor entrou devagar, com passos que ecoavam no pátio vazio. O silêncio era quase opressor. Onde estavam os gritos de alegria, os risos que costumavam preencher o espaço, as vozes animadas que tornavam a escola viva? Ele sempre dizia: “Escola sem crianças não é escola.” E naquele último dia letivo, sua frase parecia mais verdadeira do que nunca.

O compromisso principal era o conselho de classe, um momento crucial para avaliar o ano que terminava. Mas antes de se juntar aos colegas, o professor permitiu-se um breve passeio pelos corredores. Passou pelos murais, onde cartazes ainda expunham os projetos dos alunos, e pela biblioteca, onde livros desarrumados eram testemunhas silenciosas das aventuras literárias de um ano inteiro. Em cada canto, um vestígio de vida, mas a ausência das crianças tornava tudo quase fantasmagórico.

Na sala de reuniões, os professores já estavam reunidos. A conversa oscilava entre o cansaço e o alívio. As metas cumpridas eram celebradas, mas as lacunas deixavam um gosto amargo. “Fulano melhorou muito na leitura.” “Ciclano poderia ter ido mais longe.” As análises vinham acompanhadas de cafés e biscoitos, mas também de suspiros e olhares distantes.

Quando o conselho terminou, o professor voltou para sua sala, sentou-se à mesa e abriu um caderno. Queria registrar o que 2024 tinha sido: as conquistas, os erros, as aulas inesquecíveis e aquelas que ele gostaria de apagar da memória. Havia orgulho pelo que foi feito, mas também um incômodo: o que poderia ter sido diferente? Ele sabia que o trabalho de ensinar nunca estava terminado.

Começou a rabiscar ideias para 2025. Projetos que integrassem mais as famílias, atividades que dessem mais voz aos alunos, novas formas de trazer o mundo para dentro da sala de aula. Queria menos burocracia e mais poesia, menos resultados mecânicos e mais momentos significativos.

Quando finalmente saiu, trancou a porta com um suspiro. O silêncio ainda estava lá, mas algo dentro dele havia mudado. Em algumas semanas, aquele lugar voltaria a pulsar com vida. E ele estaria pronto para recomeçar.

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