O portão rangeu ao ser empurrado. O professor entrou devagar, com passos que ecoavam no pátio vazio. O silêncio era quase opressor. Onde estavam os gritos de alegria, os risos que costumavam preencher o espaço, as vozes animadas que tornavam a escola viva? Ele sempre dizia: “Escola sem crianças não é escola.” E naquele último dia letivo, sua frase parecia mais verdadeira do que nunca.
O compromisso principal era o conselho de classe,
um momento crucial para avaliar o ano que terminava. Mas antes de se juntar aos
colegas, o professor permitiu-se um breve passeio pelos corredores. Passou
pelos murais, onde cartazes ainda expunham os projetos dos alunos, e pela
biblioteca, onde livros desarrumados eram testemunhas silenciosas das aventuras
literárias de um ano inteiro. Em cada canto, um vestígio de vida, mas a
ausência das crianças tornava tudo quase fantasmagórico.
Na sala de reuniões, os professores já estavam
reunidos. A conversa oscilava entre o cansaço e o alívio. As metas cumpridas
eram celebradas, mas as lacunas deixavam um gosto amargo. “Fulano melhorou
muito na leitura.” “Ciclano poderia ter ido mais longe.” As análises vinham
acompanhadas de cafés e biscoitos, mas também de suspiros e olhares distantes.
Quando o conselho terminou, o professor voltou para
sua sala, sentou-se à mesa e abriu um caderno. Queria registrar o que 2024
tinha sido: as conquistas, os erros, as aulas inesquecíveis e aquelas que ele
gostaria de apagar da memória. Havia orgulho pelo que foi feito, mas também um
incômodo: o que poderia ter sido diferente? Ele sabia que o trabalho de ensinar
nunca estava terminado.
Começou a rabiscar ideias para 2025. Projetos que
integrassem mais as famílias, atividades que dessem mais voz aos alunos, novas
formas de trazer o mundo para dentro da sala de aula. Queria menos burocracia e
mais poesia, menos resultados mecânicos e mais momentos significativos.
Quando finalmente saiu, trancou a porta com um
suspiro. O silêncio ainda estava lá, mas algo dentro dele havia mudado. Em
algumas semanas, aquele lugar voltaria a pulsar com vida. E ele estaria pronto
para recomeçar.
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