domingo, 29 de dezembro de 2024

CRÔNICA DE ANO NOVO

Era quase meia-noite de um 31 de dezembro qualquer. O autor, cansado pela rotina do ano que se encerrava, se deixara envolver pela suavidade do sofá da sala. A televisão murmurava em volume baixo, narrando retrospectivas de um ano que parecia longo demais. Ele tentava manter os olhos abertos, mas o cansaço vencia aos poucos, embalado pela melodia de risadas ao fundo vindas da cozinha, onde a família preparava os últimos detalhes da ceia.

Sem perceber, adormeceu.

Acordou com um estrondo, mas não o som dos fogos de artifício habituais. Ao abrir os olhos, o mundo parecia diferente. O ar estava mais leve, como se uma brisa carregasse algo além de oxigênio — talvez esperança. Ele olhou pela janela e viu as ruas cheias de pessoas sorridentes, abraçando desconhecidos, conversando com uma naturalidade que parecia perdida há tempos.

Curioso, saiu de casa. Os vizinhos, antes tão ocupados em suas próprias bolhas, agora trocavam gentilezas. "Feliz Ano Novo!" ecoava, mas não como um clichê. Era como se cada palavra carregasse genuína gratidão e desejo de prosperidade.

Conforme caminhava, notava algo ainda mais impressionante. As pessoas não apenas sorriam; elas estavam mudadas. Havia brilho em seus olhos, uma força que ele nunca havia visto antes. Era como se, de repente, tivessem aprendido a enfrentar seus problemas, a aceitar suas imperfeições e a ajudar uns aos outros.

No meio daquela euforia coletiva, sentiu um misto de alegria e confusão. Como aquilo havia acontecido? Era realmente possível que, com o simples passar de um ano para o outro, o mundo se tornasse tão... humano?

Foi então que o despertador do celular tocou. Era um alarme discreto, marcado para alertá-lo cinco minutos antes da meia-noite. Ele abriu os olhos novamente e estava de volta ao sofá. A televisão ainda mostrava imagens de contagem regressiva, e da cozinha vinham os sons familiares da preparação da ceia. Nada havia mudado.

Com o coração acelerado, levantou-se e caminhou até a janela. Lá fora, tudo estava como sempre: as ruas tranquilas, os vizinhos em suas casas. Mas algo dentro dele estava diferente. Ele finalmente entendia: para que o ano novo fosse realmente novo, as pessoas precisariam ser novas também.

Era necessário mais do que promessas feitas entre brindes. Era preciso ação, mudança de postura, determinação em construir algo diferente. O mundo com que sonhara, mesmo por um breve instante, não era impossível. Ele só precisava começar dentro de cada um.

Ao ouvir os primeiros fogos iluminando o céu, fechou os olhos e fez um pedido silencioso: que o novo ano recebesse não apenas desejos, mas cidadãos dispostos a transformá-los em realidade. E com esse pensamento, sorriu, pronto para brindar não ao tempo que mudava, mas ao homem que ele estava decidido a ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário