Era quase meia-noite de um 31 de dezembro qualquer. O autor, cansado pela rotina do ano que se encerrava, se deixara envolver pela suavidade do sofá da sala. A televisão murmurava em volume baixo, narrando retrospectivas de um ano que parecia longo demais. Ele tentava manter os olhos abertos, mas o cansaço vencia aos poucos, embalado pela melodia de risadas ao fundo vindas da cozinha, onde a família preparava os últimos detalhes da ceia.
Sem perceber, adormeceu.
Acordou com um estrondo, mas não
o som dos fogos de artifício habituais. Ao abrir os olhos, o mundo parecia
diferente. O ar estava mais leve, como se uma brisa carregasse algo além de
oxigênio — talvez esperança. Ele olhou pela janela e viu as ruas cheias de
pessoas sorridentes, abraçando desconhecidos, conversando com uma naturalidade
que parecia perdida há tempos.
Curioso, saiu de casa. Os
vizinhos, antes tão ocupados em suas próprias bolhas, agora trocavam
gentilezas. "Feliz Ano Novo!" ecoava, mas não como um clichê. Era
como se cada palavra carregasse genuína gratidão e desejo de prosperidade.
Conforme caminhava, notava algo
ainda mais impressionante. As pessoas não apenas sorriam; elas estavam mudadas.
Havia brilho em seus olhos, uma força que ele nunca havia visto antes. Era como
se, de repente, tivessem aprendido a enfrentar seus problemas, a aceitar suas
imperfeições e a ajudar uns aos outros.
No meio daquela euforia coletiva,
sentiu um misto de alegria e confusão. Como aquilo havia acontecido? Era
realmente possível que, com o simples passar de um ano para o outro, o mundo se
tornasse tão... humano?
Foi então que o despertador do
celular tocou. Era um alarme discreto, marcado para alertá-lo cinco minutos
antes da meia-noite. Ele abriu os olhos novamente e estava de volta ao sofá. A
televisão ainda mostrava imagens de contagem regressiva, e da cozinha vinham os
sons familiares da preparação da ceia. Nada havia mudado.
Com o coração acelerado,
levantou-se e caminhou até a janela. Lá fora, tudo estava como sempre: as ruas
tranquilas, os vizinhos em suas casas. Mas algo dentro dele estava diferente.
Ele finalmente entendia: para que o ano novo fosse realmente novo, as pessoas
precisariam ser novas também.
Era necessário mais do que
promessas feitas entre brindes. Era preciso ação, mudança de postura,
determinação em construir algo diferente. O mundo com que sonhara, mesmo por um
breve instante, não era impossível. Ele só precisava começar dentro de cada um.
Ao ouvir os primeiros fogos
iluminando o céu, fechou os olhos e fez um pedido silencioso: que o novo ano
recebesse não apenas desejos, mas cidadãos dispostos a transformá-los em
realidade. E com esse pensamento, sorriu, pronto para brindar não ao tempo que
mudava, mas ao homem que ele estava decidido a ser.
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