Era véspera de Natal, e a casa de Dona Helena estava repleta de luzes piscando, mas em seu coração havia uma sombra. Sentada na poltrona ao lado da janela, ela olhava para o céu estrelado e suspirava profundamente. A saudade de quem já partira apertava o peito. Seu marido, João, tinha partido há alguns anos, e ela ainda sentia falta do riso contagiante dele preenchendo a sala. Pensava também em sua irmã, que sempre fazia os melhores bolos natalinos, mas que agora vivia apenas nas memórias.
Enquanto mergulhava nesses pensamentos, sua neta Clara, de apenas seis anos, correu para a sala com um brilho nos olhos e uma estrela dourada nas mãos.
— Vovó! Onde vamos colocar essa? — perguntou com a empolgação típica da infância.
Helena olhou para Clara e, por um momento, sentiu seu coração se aquecer. Levantou-se devagar e seguiu a neta até a árvore de Natal.
— Vamos colocar bem no alto, meu anjo. Para que todos possam ver — respondeu com um sorriso.
Enquanto posicionavam a estrela no topo da árvore, Helena ouviu as risadas dos filhos e noras vindo da cozinha. Sentiu o aroma de comida caseira e percebeu a música suave ao fundo. Pela primeira vez naquela noite, olhou ao redor e viu o presente mais precioso: sua família, ali, ao seu lado.
Foi então que lembrou das palavras que sua irmã costumava dizer: "O Natal não é sobre o que nos falta, mas sobre o que ainda temos."
Sentiu uma onda de gratidão percorrer seu corpo. Sim, as ausências eram dolorosas, mas o presente estava ali, vivo e pulsante, nos rostos sorridentes de seus filhos e netos. Pensou nas novas pessoas que entraram em sua vida nos últimos anos: as noras, os amigos do grupo de leitura e até a vizinha que sempre trazia um pedaço de bolo em dias frios.
Na hora da ceia, Helena pediu a palavra. Com a voz embargada, mas cheia de amor, disse:
— Meus queridos, hoje quero agradecer. Não só pelas memórias que guardamos de quem já partiu, mas principalmente por vocês, que estão aqui comigo. Pela Clara, que me lembra que a vida é cheia de cor e brilho. Pelos meus filhos, que são meu orgulho. Pelas novas amizades e por cada sorriso compartilhado. O Natal é sobre o presente, e vocês são meu maior presente.
A sala ficou em silêncio por um momento, mas logo foi preenchida por aplausos e abraços calorosos.
Naquela noite, ao deitar-se, Dona Helena olhou novamente para o céu. Desta vez, não suspirou de saudade, mas sorriu de gratidão. As ausências sempre fariam parte da vida, mas as presenças eram o que a mantinham viva e esperançosa.
E, enquanto o sono chegava, pensou consigo mesma: "O amor que perdemos não nos abandona; ele apenas se transforma, abrindo espaço para que novos amores floresçam."
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