domingo, 25 de dezembro de 2022

O DESPRENDIMENTO

Geralmente o homem possui uma preocupação excessiva com os bens materiais, enquanto

dá pouca importância ao aperfeiçoamento moral, o único que será levado em conta na

eternidade. Há bens infinitamente mais preciosos que os do mundo, e esse pensamento

deve nos ajudar a nos desprender deles. Quanto menos importância dermos às coisas do

mundo, menos sensíveis seremos à inveja e menos sofreremos pela nossa condição.

O homem só é infeliz, geralmente, pela importância que liga as coisas deste mundo. A

vaidade, a ambição e a cupidez fracassada o fazem infeliz. Se ele se elevar acima do

círculo estreito da vida material se elevar seu pensamento ao infinito, que é o seu destino,

as vicissitudes da Humanidade lhe parecerão mesquinhas e pueris ( ... ) (L.E., 933)

Não se trata de não desfrutar das coisas do mundo. É próprio do homem sábio usar as

coisas e ter nisso a maior alegria possível. O que importa é não depender, não apegar-se

às coisas mundanas, ou seja, permanecer senhor de seus sentimentos, em vez de escravo.

Importa, portanto, querermos ser mais puros, por ser mais livres; mais alegres porque

mais controlados; mais serenos porque menos dependentes. Se não tivermos muito,

contentemo-nos com pouco, persuadidos de que os que menos necessitam da abundância,

desfrutam-na com maior prazer. Em uma sociedade simples, o pão e a água não faltam

quase nunca, mas na sociedade rica, o ouro e o luxo sempre faltam. Como ser felizes, uma

vez que somos insatisfeitos? Na verdade, não é o ter pouco que importa, é o poder interior,

o contentamento; isto é uma virtude.

Que virtude mais feliz e mais humilde, que graça mais necessária do que a de sentir-se

feliz pelo que se é e pelo que se tem, ou seja, ser grato. A força do amor-próprio, no

entanto, está na raiz do apego. Ao supervalorizarmos os bens mundanos, estamos

vivenciando o amor a si, ao passo que na alegria sentida por tudo que o outro é e possui,

está o amor ao próximo, e no reconhecimento por tudo que somos e possuímos, está o

amor a Deus.

Portanto, a inveja e o carecer deslustram o amor, ao passo que apenas o sentimento de

gratidão pode nutrir nosso impulso feliz de generosidade - não uma gratidão afetiva

apenas, mas uma gratidão ativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário