Geralmente o homem possui uma preocupação excessiva com os bens materiais, enquanto
dá pouca importância ao aperfeiçoamento moral, o único que será levado em conta na
eternidade. Há bens infinitamente mais preciosos que os do mundo, e esse pensamento
deve nos ajudar a nos desprender deles. Quanto menos importância dermos às coisas do
mundo, menos sensíveis seremos à inveja e menos sofreremos pela nossa condição.
O homem só é infeliz, geralmente, pela importância que liga as coisas deste mundo. A
vaidade, a ambição e a cupidez fracassada o fazem infeliz. Se ele se elevar acima do
círculo estreito da vida material se elevar seu pensamento ao infinito, que é o seu destino,
as vicissitudes da Humanidade lhe parecerão mesquinhas e pueris ( ... ) (L.E., 933)
Não se trata de não desfrutar das coisas do mundo. É próprio do homem sábio usar as
coisas e ter nisso a maior alegria possível. O que importa é não depender, não apegar-se
às coisas mundanas, ou seja, permanecer senhor de seus sentimentos, em vez de escravo.
Importa, portanto, querermos ser mais puros, por ser mais livres; mais alegres porque
mais controlados; mais serenos porque menos dependentes. Se não tivermos muito,
contentemo-nos com pouco, persuadidos de que os que menos necessitam da abundância,
desfrutam-na com maior prazer. Em uma sociedade simples, o pão e a água não faltam
quase nunca, mas na sociedade rica, o ouro e o luxo sempre faltam. Como ser felizes, uma
vez que somos insatisfeitos? Na verdade, não é o ter pouco que importa, é o poder interior,
o contentamento; isto é uma virtude.
Que virtude mais feliz e mais humilde, que graça mais necessária do que a de sentir-se
feliz pelo que se é e pelo que se tem, ou seja, ser grato. A força do amor-próprio, no
entanto, está na raiz do apego. Ao supervalorizarmos os bens mundanos, estamos
vivenciando o amor a si, ao passo que na alegria sentida por tudo que o outro é e possui,
está o amor ao próximo, e no reconhecimento por tudo que somos e possuímos, está o
amor a Deus.
Portanto, a inveja e o carecer deslustram o amor, ao passo que apenas o sentimento de
gratidão pode nutrir nosso impulso feliz de generosidade - não uma gratidão afetiva
apenas, mas uma gratidão ativa.
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