As estatísticas provam, brasileiro não transa nas
segundas-feiras. Segunda é o dia da semana com o maior índice de TV ligadas no
País. Não há nada na tradição judaico-cristã que proíba o sexo às segundas,
como há com outros tipos de comidas. Simplesmente se convencionou que
segunda-feira não é dia para isso. Ou, mais especificamente, aquilo.
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Os conselheiros matrimoniais conhecem casos em que
o tabu foi desrespeitado.
– Ele quis me forçar a fazer sexo com ele, doutor.
– Bem, como ele é seu marido, não creio que
“forçar” seja o termo adequado...
– Era segunda-feira, doutor!
– TARADO!
*
Há algo nas
segundas-feiras que desperta nas pessoas a ideia de abstinência. Remorso,
talvez. A velha ética do trabalho nos compelindo à autoflagelação pelo pecado
de ternos folgado por dois dias. Já são anedotas as histórias de pessoas que
começam dietas – ou abandonam o cigarro, param de jogar e fazem outra tentativa
de ler Grande Sertão: Veredas – todas as segundas-feiras.
Geralmente a virtude não dura até quarta-feira, mas
a compulsão existe.
Você tem até o fim da noite de domingo para fazer
tudo que pretende abandonar na segunda-feira, o que só aumenta seu remorso.
Para não falar na ressaca.
*
A lei que transferiria para a segunda-feira todos
os feriados nacionais (o projeto existe, juro) seria o primeiro de um plano
mais amplo, que é o de abolir a segunda-feira da consciência nacional, depois
da semana inglesa, a semana brasileira. Como levaria algum tempo para a gente
se acostumar com a nova semana, as segundas-feiras passariam a ser uma espécie
de zona cinzenta entre a folga e a rotina, um amortecedor nessa curiosa divisão
das nossas vidas entre dias úteis e inúteis. A segunda seria um dia para
reflexão, para a nação reencontrar sua cabeça e para você se reconciliar com
seus pecados.
*
E tudo começaria de novo, na primeira hora de terça-feira.Luis Fernando Verissimo
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