No dia 30 de agosto de 2025, o Brasil perdeu fisicamente um de seus maiores cronistas e humoristas: Luis Fernando Veríssimo faleceu aos 88 anos, em Porto Alegre, após uma internação de cerca de três semanas por pneumonia no Hospital Moinhos de Vento. Ele enfrentava, há anos, complicações de saúde — doença de Parkinson, sequelas de AVC sofrido em 2021 e problemas cardíacos — que o afastaram lentamente das crônicas que tanto amávamos .
Mas, se nos despedimos do homem, a obra sobrevive com a resiliência de quem se recusa a ser reduzido ao fim. Luis Fernando Veríssimo morreu, mas não morreu — porque suas palavras, seu humor e sua sensibilidade continuam ecoando em cada leitura e releitura.
Ele foi o mestre de pequenas grandes epifanias do cotidiano, das “comédias da vida privada”, que nos faziam rir de nós mesmos, com quem se identifica, com quem se encanta — ou se preocupa. Ele escreveu não porque precisasse, mas porque parecia que a vida fosse — como disse — uma obrigação com as palavras, um “cáften das palavras”, nas suas próprias fotos de ofício .
Porque a morte é “uma injustiça”, havia dito em entrevista . Mas é justamente essa leveza — essa mistura de tristeza e doçura — que continua viva: “A morte é uma sacanagem. Sou cada vez mais contra.”
Em suas frases, encontramos a eternidade. A antologia Veríssimas reuniu suas reflexões mais lapidares, sobre a vida, o envelhecimento, o tempo — e sobre a morte — com tanto humor quanto verdade:
“Minha relação é esquecer que ela existe. E espero que ela faça o mesmo comigo.”
“Não deixa de ser um conceito atraente. Dependendo, é claro, de quem serão nossos vizinhos.”
Esses pequenos aforismos carregam uma sobrevivência íntima, porque a verdadeira sobrevivência de Veríssimo está em quem lê, em quem se reconhece nos seus personagens — o Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté, Ed Mort, a Família Brasil — e guarda um sorriso entre as linhas.
Em suas crônicas, como naquela em que escuta o canto das cigarras na fazenda e vê um símbolo de ressurreição: a vida que sai do túmulo, a poesia que ressurge no presente e na memória, trazendo a eternidade num instante comovido .
A poesia, escreveu ele, não vive no passado nem no futuro, mas no presente — e é ali, agora, onde reside a imortalidade de sua voz.
Por tudo isso, é impossível enxergar Luis Fernando Veríssimo como uma ausência. Ele deixou uma obra vasta — mais de 60 ou até 80 livros, dezenas de personagens imortais, contos, crônicas, tirinhas, textos adaptados para a televisão e o humor — que segue viva na pena de leitores, no riso de alguém, no instante em que alguém se reconhece no Universal do particular.
Ele morreu — e, ainda assim, não morreu. Porque enquanto houver leitores que releiam “Quem quase morreu está vivo”, ou desistam de escrever o luto com suas formidáveis mesclas de humor e ternura, ele estará presente. Nas palavras, sim — e, por isso, eterno.
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