Não se discutiu como será a Educação
O debate na TV Globo é o ponto alto do processo eleitoral. Ali, cada
candidato tem a última chance para dizer por que os eleitores devem optar por
ele ou por ela. Em 2014, o eleitor que buscou o melhor candidato no primeiro
turno ficou frustrado pela ausência do tema educação. Educação foi jogada na
vala comum, e o tema não foi sorteado. Pior, apesar de a educação permear todos
os temas que foram sorteados, nenhum dos candidatos aproveitou cada questão
para apresentar suas propostas de como fazer a revolução educacional que o
Brasil precisa iniciar urgentemente.
A verdadeira razão da ausência do tema educação está na ausência do tema
futuro.
Das muitas dezenas de horas de entrevistas, discursos, debates e
manifestações, os temas debatidos estiveram sempre vinculados aos problemas do
presente, não foram sobre o destino que o candidato sonha para o país e quais
as reformas estruturais que levem ao destino que defende.
Mesmo quando o tema da educação apareceu, os candidatos se limitaram a
sugerir horário integral nas escolas, sem dizer como fazê-lo a partir do
governo federal, sendo a educação de base uma questão municipal e estadual; nem
se discutiu como será a educação nas próximas décadas. Tampouco como fazer a
educação ser igual para todas as crianças, independentemente da cidade onde
mora e da renda dos pais. Comemora-se que alguns filhos de pedreiros já entram
em alguns cursos superiores, sem propor como fazer para que todos os filhos de
todos os pedreiros tenham a mesma oportunidade para disputar o ingresso nas
melhores universidades.
Debateu-se a manutenção do Bolsa Família, mas não se debateu como e em
quanto tempo nenhuma família brasileira necessitará de auxílio para garantir
sua sobrevivência.
Em um mundo que se globaliza em todos os aspectos, inclusive por
epidemias, como se vê agora com o caso do ebola, o problema da segurança
nacional não foi debatido.
Debateu-se a baixa taxa de crescimento do Produto Interno Bruto no
presente, sem debater que tipo de PIB é desejável para o Brasil no futuro: se
vamos continuar basicamente com bens primários ou concorrer mundialmente com
bens de alta tecnologia. Ninguém propôs e nenhum entrevistador perguntou como
abrir as portas para o Brasil ingressar no mundo dos países inovadores.
Debateu-se como ampliar o sistema de segurança, mas não se debateu como
fazer as cidades serem tão pacíficas que não se necessite do Estado policial
que estamos construindo.
Nenhum tema foi debatido na perspectiva do longo prazo. O debate ficou
prisioneiro do imediato, como se estivéssemos escolhendo um gestor para apenas
administrar a crise e não um estadista para reorientar os destinos nacionais.
Felizmente, ainda temos uma semana antes do segundo turno, além do que,
a cada quatro anos, a democracia oferece novas oportunidades ao país e seu
futuro ausente.
Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/o-futuro-ausente-14286799#ixzz3GUtWWiN8
Nenhum comentário:
Postar um comentário