Nas últimas décadas, estudos têm apontado para uma preocupante diminuição na média do QI da população em diversos países, fenômeno conhecido como "efeito Flynn reverso". Entre os fatores associados a essa queda, destaca-se o declínio no hábito de leitura. A leitura desempenha um papel essencial no desenvolvimento cognitivo, especialmente no que diz respeito à ampliação do repertório lexical e à capacidade de formular pensamentos complexos.
De acordo com a teoria da interação entre linguagem e cognição, proposta por Lev Vygotsky, o domínio da linguagem é fundamental para o desenvolvimento do pensamento. A leitura expande o vocabulário, o que, por sua vez, facilita o processamento de ideias mais elaboradas e abstratas. Sem esse repertório lexical, o indivíduo encontra dificuldades em compreender e criar conceitos que envolvam raciocínios sofisticados.
A pesquisa conduzida por Anne E. Cunningham e Keith E. Stanovich (1998), publicada no artigo What Reading Does for the Mind, destaca que o hábito de leitura tem um impacto direto no desenvolvimento de habilidades verbais e no aumento do conhecimento geral. Indivíduos que leem frequentemente apresentam um vocabulário mais rico, o que é um dos pilares da inteligência cristalizada – uma das duas principais dimensões do QI.
Além disso, o declínio no tempo dedicado à leitura está diretamente relacionado à substituição por atividades que demandam menor esforço cognitivo, como o consumo passivo de conteúdos em redes sociais ou entretenimento superficial. Esse tipo de consumo, embora possa ser uma forma de relaxamento, não estimula o desenvolvimento de conexões neurais complexas da mesma forma que a leitura.
A falta de leitura também compromete a capacidade de interpretar textos, realizar inferências e articular argumentos – competências indispensáveis para lidar com os desafios do mundo contemporâneo. Em um artigo publicado no Intelligence Journal (Bratsberg & Rogeberg, 2018), foi observado que a queda na média de QI está associada à mudança nos hábitos culturais, incluindo a diminuição de práticas intelectualmente estimulantes, como a leitura e o estudo aprofundado.
Portanto, a diminuição da prática da leitura não apenas enfraquece o conhecimento lexical, mas também inibe o desenvolvimento do pensamento complexo. Para reverter essa tendência, é fundamental promover políticas educacionais que incentivem a leitura desde a infância, bem como conscientizar a população sobre a importância de hábitos culturais que estimulem o cérebro e fortaleçam as bases cognitivas da sociedade.