terça-feira, 27 de junho de 2023

As crianças autistas podem ser muito inteligentes, criativas e imaginativas.

 

Introdução 

Com o advento da inclusão escolar, nasce a necessidade de exercitar uma nova forma de educar, rompendo com os paradigmas educacionais ora existentes. Podemos considerar que “mudar o paradigma significa, então, pensar: queremos uma educação para todos, não uma educação especial para alguns [...]” PAN (2013, p.140). Para promover a inclusão escolar, é preciso reconstruir o conhecimento a partir do que está acontecendo atualmente na sociedade e repensar as práticas de ensino ora adotadas, oportunizando, assim, as mudanças que forem necessárias. Para que isso ocorra é preciso observar os processos que estão ocorrendo na contemporaneidade. Rouanet (1987) trouxe à tona um importante questionamento acerca do que é a nossa atualidade e sobre o que é possível fazer dentro da realidade em que vivemos de acordo com os acontecimentos que se apresentam.

Neste trabalho, direcionamos o nosso foco para a inclusão dos alunos que se encontram dentro do espectro autista. Um dado importante a se considerar é o fato de que, durante muito tempo, os fatores emocionais foram tidos como a única causa do autismo e por esse motivo a atenção dada ao problema era voltada para o ambiente familiar, a criança era vista como vítima das circunstâncias. De acordo com Rotta e Riesgo (2015), muitas são as evidências científicas da organicidade do autismo. Tais investigações foram feitas em diversas áreas das neurociências. Graças aos avanços dessas pesquisas, hoje, muito pode-se fazer para promover o desenvolvimento da criança autista, tanto clinica, quanto educacionalmente.

Atualmente, fala-se no Transtorno do Espectro Autista (TEA), que se divide em vários níveis de autismo, desde o leve até o mais severo grau. Sendo um transtorno complexo do neurodesenvolvimento, discutiremos a importância de aplicar uma pedagogia transdisciplinar para viabilizar o aprendizado da criança autista, estimulando a conquista de sua autonomia, para que ela seja a protagonista de sua própria história.

Desenvolvimento   

Ao pesquisar a definição de autismo encontramos que:

O autismo é um transtorno complexo e abrangente do neurodesenvolvimento, composto por três principais manifestações: 1) deficit qualitativo na interação social e na comunicação; 2) padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados; e 3) um repertório restrito de interesses e atividades. (RIESGO, 2014 apud DSM-IV-TR, APA 2002).

Dentre as principais características dos autismos destacamos: atraso na linguagem; dificuldades no relacionamento social; repertório restrito de interesses; padrões repetitivos e estereotipados; resistência à mudança; pouca fixação de olhar; hipersensibilidade sensorial; maior interesse por objetos em detrimento de pessoas.

O autista percebe o mundo de maneira diferente das demais pessoas, geralmente, precisa de rotina e isolamento para se sentir seguro. Sentem-se extremamente ansiosos quando não sabem o que esperar de uma situação.

A hipersensibilidade sensorial faz com que ele tenha uma percepção aumentada da realidade, fazendo com que tudo o que envolva os sentidos da visão, tato, audição e paladar o incomode, até mesmo o menor barulho pode desencadear uma crise nervosa, por este motivo é comum encontrarmos autistas que cobrem os ouvidos em ambientes ruidosos.

A criança autista não responde quando chamada, por sua falta de interesse no outro. Somado ao fato do atraso no desenvolvimento da linguagem, muitas vezes, os familiares acreditam que estão diante de um caso de surdez e começam por este viés, sua investigação.

Quando dentro do espectro de grau leve, encontramos indivíduos autênticos e literais. Autistas não entendem metáforas e desconhecem o “fazer social”. Comunicam o que pensam, quando se sentem seguros para fazê-lo.

Como nos contou a professora que foi entrevistada, seu aluno contou, em certa ocasião, que se disserem a ele que vai chover canivete, ele entenderá que vai chover canivete (informação verbal).

Ao pensar nas potencialidades do estudante autista surge uma importante questão: toda criança autista tem condições de frequentar a sala de aula do ensino regular? A está questão, o Neuropediatra Dr. Clay Brites responde que não e justifica:

Existem casos graves de pacientes com TEA que se mordem e se batem muito. Esses alunos precisam de um atendimento terapêutico um pouco mais diferenciado. Lembre-se que cada caso é um caso. A inclusão deve ser positiva. A inclusão deve privilegiar conteúdos pedagógicos. Se houver dificuldade para ensinar, existe o plano educacional individualizado, cuja finalidade é analisar as áreas que o aluno consegue desempenhar ou não. (BRITES, 2018).

Diante do exposto acima, ficou evidente que a inclusão do autista no ambiente escolar deve ser estudada com cuidado e atenção.

Os alunos autistas que tem a oportunidade de frequentar o ensino regular, quando inseridos em um ambiente inclusivo, tem grandes chances de se desenvolver. As crianças autistas podem ser muito inteligentes, criativas e imaginativas. O autista de grau leve tem potencial para encontrar o seu espaço na sociedade e conquistar sua autonomia. A professora entrevistada (2018) relatou que seu aluno tem buscado falar mais abertamente sobre sua situação, diante dos seus colegas. Este é um exemplo claro de desenvolvimento, quando estimulado pela família e pela escola, que devem estar em constante contato e troca de informações sobre o dia a dia da criança no ambiente doméstico e escolar.

Conclusão

Considerando que o autismo é um transtorno complexo, se faz necessário trabalhar com este aluno utilizando uma abordagem transdisciplinar que possibilite uma conversa com os diferentes ramos do saber. Assim, o conhecimento vai se construindo a partir de diferentes perspectivas e saberes.

Quando falamos em educação especial, é importante ter em mente que os educadores precisam acreditar no potencial do aluno e com ele estabelecer um vínculo afetivo, que com o passar o tempo, vai se fortalecendo. Reconhecer nos pequenos avanços, os grandes ganhos.

Promover atividades integrativas e colaborativas estimulando o convívio social da criança autista, lembrando de proporcionar um ambiente agradável, sem muitos ruídos e minimamente previsível para que ele se sinta encorajado a participar ativamente, dentro do seu limite, que deve ser respeitado.

A musicoterapia e o teatro podem ser usadas como ferramentas de socialização desse aluno, uma vez que trabalham a emoção e a imaginação. Através da música é possível desenvolver sua capacidade de perceber o som como um elemento agradável, uma vez que este elemento será inserido gradativamente em seu aprendizado.

O aprendiz autista está na escola regular para aprender. Porém, muito mais do que os conteúdos das matérias, ele tem necessidade de ser ouvido, de ser acolhido quando exposto a uma situação que gere algum tipo estresse, lembrando que ele é bastante vulnerável emocionalmente.

O tempo dele é outro, as dificuldades de aprender são patentes, por este motivo, deve ser concedido a ele um tempo extra a fim de que possa se dedicar com calma à atividade proposta.

Para a realização e um trabalho inspirador que seja focado no desenvolvimento das crianças com necessidades especiais e também dos alunos neurotípicos, devemos ter em mente que [...] “a nossa missão educadora inclui, certamente, o cultivo do amor e do cuidado, a ressureição da fé e o resgate da esperança.” (MORAES, 2016).

Referências

BRITES, Clay. Autismo e Inclusão Escolar: o que fazer?. Disponível em: https://neurosaber.com.br/autismo-e-inclusao-escolar-o-que-fazer/ Acesso em: 22 de jun. 2018.

MORAES, Maria Cândida. Transdisciplinaridade, Criatividade e Educação. Campinas. Papirus: 2016.

PAN, Miriam. O Direito à Diferença: uma reflexão sobre deficiência intelectual e educação inclusiva. Curitiba. Intersaberes: 2013.

RIESGO, R.; Neuropediatria, Autismo e Educação. In: SCHMIDT, C. (Org.). Autismo, Educação e Transdisciplinaridade. Campinas: Papirus, 2014.

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