Aprendi que golpes de estado
podem ser executados sem tanques na rua desde que haja uma perfeita comunhão
entre mídia, legislativo, executivo e judiciário. Aprendi que tudo é de fato
luta de classes, e que a única Liberdade que não podem nos tirar é escolher que
atitude teremos diante de cada acontecimento. Aprendi a esperar calmamente que
a fila ande sem vociferar contra os mais lentos ou contra o sistema; aliás aprendi
a não culpar nem Estado, nem família, nem amigos, nem chefe, nem o acaso, nem
coisa nenhuma pelos fracassos da vida. Aprendi a meditar e aprendi que deixar
de ver um obstáculo na estrada faz sim uma dúzia de ovos quebrar. Aprendi a
tocar bois e aprendi que alguns deles, quando mal tocados, correm na direção
oposta: a sua. Aprendi que amizades virtuais podem se tornar reais e
adquirir a capacidade de seguir por uma vida. Aprendi que, como escreveu
Alan Cohen, a dor é uma pedra no caminho e não um lugar para acampar. Aprendi
que átomos têm 99,9% de espaço vazio e que, sendo feito de átomos, o ser
humano é, portanto, feito de espaço vazio. Aprendi a passar algumas horas do
dia buscando alcançar o silêncio que só o vazio oferece. Aprendi que antes de
algumas das mais belas e significativas revelações tudo o que existe é terror e
desespero. Aprendi, aliás, que não há besteiras irreversíveis e que a vida tem
sim um botão de “undo”, mas que para alcançá-lo é preciso dominar a mais
difícil das artes: a de perdoar. Aprendi que estamos sendo constantemente
vigiados pela tirania privada-estatal e que um mundo dominado por corporações é
um mundo sem alma, sem vida e sem sentido. Aprendi que toda a forma de
autoridade deve ser questionada e precisa se provar legítima. Aprendi que
não tendo a capacidade de se provar legítima ela precisa ser destruída. Aprendi
que nenhum direito civil jamais foi concedido sem luta e sem dor, e que a quem
a vida ofereceu enormes privilégios cabe lutar pelos menos privilegiados.
Aprendi que a maior das violências é deixar de reconhecer a humanidade no outro
e que estamos caminhando para nos aprofundar em uma ditadura de classes que se
impõe não só pela força do porrete mas também pela violência institucional e
constitucional. Aprendi que se tratamos um ser humano como bicho ele se
comporta como bicho; mas que se tratamos um ser humano com amor e compaixão ele
se comporta como um Deus. Aprendi, ou reaprendi graças a nossos irmãos
colombianos, que o futebol pode sim nos elevar a um lugar de mais significado.
Aprendi, no mais literal dos sentidos, que quando tudo o que temos é um martelo
só conseguimos ver pregos ao redor. Aprendi que existe uma paz dentro de cada
um de nós que vai além de toda a compreensão e que, como pediu a anarquista
Rosa Luxemburgo, é preciso não fugir da luta em nome de um mundo dentro do
qual sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.